ModaLisboa: O património de mãos dadas com a modernidade

O segundo dia de desfiles da Moda Lisboa dividiu-se entre o Museu Nacional de Arte Antiga, o lago Botequim do Rei e o Pavilhão Carlos Lopes. E sempre com o furacão Leslie à espreita.

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O desfile da Awaytomars ocupou o lago Botequim do Rei, ao lado do Pavilhão Carlos Lopes
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Nuno Gama
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Luís Carvalho
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Patrick de Pádua
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Constança Entrudo
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Cia.Marítima

Entre o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), o lago Botequim do Rei e o Pavilhão Carlos Lopes, o segundo dia de desfiles da ModaLisboa foi de ligação entre património e modernidade — um princípio que acompanha o evento desde o início. Já as palavras introdutórias, proferidas em altifalante antes do primeiro desfile de sexta-feira, tinham avisado: "[A moda] viverá dos novos talentos e novas tendências. Da noção de património que é comum a todos e que inspira novas criações e linguagens".

O dia de sábado começou nas salas da exposição permanente do MNAA, para onde Nuno Gama levou os seus homens-estátua. "Queria compartilhar esta energia que sinto. Cada vez que cá venho saio com ideias novas e coisas a borbulhar", conta o criador. Sob o prenúncio do furacão Leslie, alguns espaços em tendas exteriores tiveram de passar para dentro do Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII.

Com o sol ainda à vista e algumas nuvens pouco ameaçadoras, o desfile da marca Awaytomars ocupou no início da tarde o recentemente restaurado lago Botequim do Rei, junto ao pavilhão. Um a um, os manequins que entravam em cena iam preenchendo o muro que circunda o lago, criando um reflexo na água. "[O local] foi perfeito porque a colecção é sobre luz e reflexo", comenta Alfredo Orobio, fundador da marca, que reúne actualmente uma comunidade de cerca de 15 mil membros online, que contribuem com ideias, em regime de co-criação.

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Desfile Awaytomars

Esta temporada receberam 809 designs e trabalharam mais de perto com 15 designers, conta Orobio. Algumas das ideias incidiram sobre fotografia e cinema do início do século XX, quando se pintavam as películas dos filmes. As imagens de luz e reflexo revelam-se nos estampados — um dos pontos fortes da marca. Desfilaram também algumas das peças que a Awaytomars criou em parceria com a marca de doces Froot Loops, actualmente à venda numa loja em Nova Iorque e online

Não foi a única grande colaboração dos últimos meses: também lançaram, por exemplo, uma colecção de sapatos com a Melissa. "Correu muito bem. Vendemos 70 mil pares em dois meses", conta. Vão inclusive renovar a colaboração, adianta. A marca começa a ganhar alguma escala: segundo Orobio, facturou 1,2 milhões de euros em 2017 e este ano esperam duplicar o valor, atingindo os 3 milhões de euros. "Depende se as coisas do Froot Loops vendem tão bem quanto a Melissa", explica.

Viagens no tempo e espaço

A 51.ª edição da ModaLisboa acontece na sequência de um protocolo assinado com o Portugal Fashion, em Setembro. O documento veio sinalizar uma nova era para a moda portuguesa, centrada no trabalho em rede. Abriu, para já, a porta à colaboração entre duas organizações, que apesar de terem objectivos semelhantes trabalharam décadas de costas voltadas.

Os frutos desta união de esforços chegarão mais para a frente, mas este fim-de-semana já houve algumas alterações simbólicas. Alexandra Moura, que há alguns anos passou a apresentar no Portugal Fashion, voltou para a ModaLisboa — "powered by Portugal Fashion", como indica o programa. "Com tanta coisa a acontecer, é importante as pessoas unirem esforços, unirem o foco numa mesma estratégia", comenta a criadora. "Neste momento tenho o melhor de dois mundos: volto ao sítio onde cresci, a casa que de alguma forma me lançou, e ao mesmo tempo estou com as pessoas que me ajudaram a começar uma caminhada ao nível internacional.

Tal como na última colecção, a criadora levou-nos, esta estação, para os tempos da sua própria juventude. Mais concretamente, as férias que passava em casa dos avós, numa aldeia em Trás-os-Montes. A colecção resulta de um misto de imagens entrelaçadas: "o contacto com a terra e os animais", as divisões da casa "sempre arranjadas", "a colcha com folhos de cetim", a sala com brocados, os quadros com flores pintados à mão, e as próprias roupas dos avós. "A minha avó tinha as camisinhas muito imaculadas, o meu avô era os fatos. Depois era vê-los a aperaltarem-se porque era domingo ou porque tinha chegado o dia da festa da aldeia", recorda.

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Desfile de Alexandra Moura

A criadora não foi a única a viajar no tempo (ou no espaço) para buscar inspiração para a sua colecção. Ricardo Andrez recordou a onda de pânico na viragem de milénio, projectando manchas representativas de glitches informáticos e rostos de aliens nos estampados. Em chinês, cirílico e inglês, lia-se "I'm coming to this world" — uma brincadeira, "quase como se o bug estivesse a anunciar a sua chegada", explica o criador. Aleksandar Protic imaginou uma colecção a partir de "heróis das novas gerações das metrópoles brasileiras", com alguns apontamentos de cor a contrastar com os tons mais neutros que tipicamente usa.

Já Luís Carvalho viajou para paisagens nipónicas onde reinam as cerejeiras. Os estampados de cerejas foram o ponto de partida e, pelo caminho, acrescentou adaptações mais subtis de elementos japoneses, como quimonos e cintas. Nos cinco anos de marca que agora celebra, o criador conseguiu tornar-se um nome reconhecido, com bastante visibilidade mediática e clientes conhecidas do público português. Foi essencial traçar os objectivos da marca desde o primeiro momento, defende o criador. "É muito importante definir uma estratégia para a marca. Não fazer um desfile, uma colecção, criar uma marca só porque quero apresentar desfiles. Temos de definir uma estratégia comercial porque a marca tem de ser sustentável."

Ainda no sábado, apresentaram as suas colecções Patrick de Pádua, Constança Entrudo (uma estreia nos desfiles) e a marca Cia.Marítima. A ModaLisboa termina este domingo, com criadores como Dino Alves e Filipe Faísca.

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