Uma tempestade sem precedentes na Península Ibérica?

Os ventos dominantes e as águas mais frias deste lado do Atlântico não são tão propícias ao desenvolvimento e sobrevivência de furacões como nas regiões das Caraíbas e do Golfo do México. Tempestades como a Leslie ou o Vince (2005) são por isso raras.

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LUSA/ESA / HANDOUT

A aproximação de um furacão à Península Ibérica como o Leslie é um acontecimento raro, mas não inédito. Há registo de pelo menos dois eventos semelhantes.

Em Outubro de 1842, um furacão foi detectado a sudoeste da Madeira, tendo a tempestade avançado ao longo da costa de Marrocos até atingir o sul de Espanha e Portugal.

Em 2005, o furacão Vince chegou à Península Ibérica já como tempestade extratropical (com ventos mais fracos do que um furacão), atingido o Algarve e a província andaluza de Huelva, sem causar vítimas ou estragos significativos.

Habitualmente, no Atlântico Norte, as tempestades deste tipo formam-se a baixas latitudes em águas tropicais, mais quentes. As águas a oeste de Cabo Verde, bem como a região das Caraíbas, têm condições ideais para a formação de furacões durante o Verão e o Outono.

Estas tempestades são depois levadas por ventos dominantes para ocidente, curvando gradualmente para norte. As Caraíbas, a América Central e os Estados Unidos (sobretudo a Costa Leste, a Florida e os estados do Golfo do México) são zonas habitualmente atingidas por furacões, bem como os Açores.

As tempestades que sobem a latitudes mais elevadas podem ter a tendência a curvar para leste. No entanto, e sem água quente para as alimentar, tendem a perder potência, deixando de ser classificadas como furacões, e dissipando-se gradualmente.

Por vezes, estes “restos” de furacões chegam ao continente europeu, nomeadamente às Ilhas Britânicas e à Escandinávia, mas sem causar estragos consideráveis.

Ocasionalmente, estes “restos” também podem chegar à Península Ibérica, como foram os casos da Jeanne em 1998, do Joaquin em 2015 ou do Rafael em 2012.

Já a formação de um furacão na zona leste do Atlântico Norte é mais rara, e a sobrevivência de um furacão nestas águas tendencialmente mais frias é incomum. A trajectória da tempestade Leslie, tal como a do furacão Vince em 2005, é por isso excepcional.

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