Inteligente irónico e propenso à polémica

Azeredo Lopes entra para a política por intermédio de Jorge Sampaio, no âmbito do processo de Timor-Leste. Não tem filiação partidária, mas enquanto estudante foi activista do CDS. Entre 2013 e 2015 foi chefe de gabinete de Rui Moreira, com quem se incompatibilizou.

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Azeredo Lopes vai regressar à Universidade Católica do Porto onde é professor LUSA/MÁRIO CRUZ

Excepcionalmente culto, com uma ironia demolidora e talvez a pessoa que mais sabe de relações internacionais em Portugal, Azeredo Lopes faz parte do primeiro curso de Direito da Universidade Católica do Porto, onde foi considerado um aluno muito bom, mas não o melhor dessa fornada. Segue-se o mestrado e o doutoramento na Católica de Lisboa. Armando Marques Guedes (já falecido), pai do deputado e ex-ministro dos Assuntos Parlamentares, Marques Guedes e primeiro juiz do Tribunal Constitucional, foi o orientador da carreira académica de o até agora ministro da Defesa.

Hoje, não se lhe conhece filiação partidária. Todavia, enquanto estudante, no antigo Liceu D. Manuel II, no Porto, e até mesmo na faculdade, Azeredo Lopes era considerado um activista do CDS e, verdadeiramente, nunca perdeu a sua proximidade a este partido. Quando Paulo Portas tutelou a pasta dos Negócios Estrangeiros, Azeredo colaborou com ele como consultor, dada a sua formação.

Natural do Porto, Azeredo Lopes, 57 anos, é professor de Direito Internacional na Católica. A ironia demolidora que muitos lhe apontam torna-o, por vezes, um professor pouco impopular junto dos alunos. Autor de artigos e obras na área do Direito internacional, o até agora ministro foi director da Escola de Direito do Porto da Universidade Católica entre 2005 e 2007 e na década de noventa, até 2004, dirigiu o Gabinete de Estudos Internacionais da mesma universidade.

Casado com uma francesa, que terá conhecido na altura em que esteve em França, pouco depois da licenciatura, José Alberto de Azeredo Ferreira Lopes chega à política pela mão do socialista Jorge Sampaio, com quem constrói uma excelente relação nos anos noventa, uma amizade que também o aproxima do PS. Em finais da década de noventa, em pleno processo de independência de Timor-Leste, o então Presidente da República chama-o. Esteve na Missão do Banco Mundial em Timor-Leste, em 1999 e, no mesmo ano, foi coordenador de uma missão de observadores internacionais à consulta popular no país.

Em 2002, com o PSD no Governo, chefiado por Durão Barroso, integrou o grupo de Trabalho sobre Serviço Público de Televisão, no âmbito do qual negociou, em representação do então ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Nuno Morais Sarmento, o Protocolo RTP-SIC-TVI, assinado em 2003. Três anos depois e até 2011, Azeredo Lopes preside à Comissão Executiva da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e a sua passagem por este organismo, onde foi extremamente interventivo, granjeou a simpatia do sector próximo de Rui Rio. Na altura, Rui Rio era presidente da Câmara do Porto e fez chegar várias queixas à ERC devido à difícil relação que tinha com a comunicação social e que atravessou os três mandatos autárquicos.

Quando Rui Moreira decide candidatar-se à Câmara do Porto, o ex-ministro aparece como um trunfo, primeiro porque tinha boas relações com Paulo Portas, partido que apoiava o candidato, e também porque agradava ao sector de Rio que estava todo envolvido na candidatura do ex-presidente da Associação Comercial do Porto, contra Luís Filipe Menezes, que liderava a lista do PSD.

A aproximação a Rui Moreira é de tal forma que decide convidar Azevedo Lopes para chefe de gabinete e terá sido ele o mentor do acordo político gizado entre o Rui Moreira e o socialista Manuel Pizarro, que permitiu ao autarca independente governar a câmara uma vez que ganhou sem maioria.

Um mês depois da posse, o presidente da Câmara do Porto passou uma “procuração forense”, constituindo seus procuradores três advogados e um solicitador da autarquia, concedendo-lhes “poderes especiais para confessar, desistir ou transigir no âmbito do processo” judicial que opunha a Selminho, a imobiliária da família de Rui Moreira, à autarquia portuense.

Este episódio foi o princípio do fim da relação entre os dois independentes. O Ministério Público fez notar no processo que “dos factos materiais concretos que se apuraram”, não emergir “que a ordem jurídica haja sido violada”, nem que tenha sido demonstrada “intenção dolosa do participado” [Rui Moreira]. Mas “constata-se que ocorreu uma intervenção menos avisada ou desatenta” do presidente da câmara, “para o que terá sido decisiva a interferência do seu então chefe de gabinete”. “O que fiz for por recomendação [de Rui Moreira]. Não sou jurista”, declarou publicamente Azeredo Lopes.

O ex-chefe de gabinete de Moreira deixa a Câmara do Porto, em 2015, para assumir o cargo de ministro da Defesa Nacional, uma escolha que terá o dedo do líder do PS-Porto, Manuel Pizarro, com quem Azeredo Lopes desenvolveu uma boa amizade na autarquia, de tal modo que, nas autárquicas de 2017, dá o seu apoio ao vereador do PS à Câmara do Porto, o que lhe vale o epiteto de “cata-vento”.

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