Deixem-nos trabalhar!

Com Pedro Passos Coelho aprendi o valor e preço da verdade na política. E nesses anos trabalhei muito.

Em 2002, no tempo de Durão Barroso, fui convidada a integrar as listas de deputados. Num partido que não gostava de quotas, eu cumpria três: era mulher, independente e vinha da academia. Nessa legislatura, passados meses, integrava a direção. Devo a Guilherme Silva, então líder parlamentar, e a Luís Marques Guedes, seu primeiro vice-presidente, tudo o que aprendi nesses anos.

Terminada prematuramente a legislatura não integrei as listas de deputados em 2005. O lugar que me foi tardiamente proposto não fazia justiça ao meu trabalho. Recusei.

Regressei assim à minha vida profissional e académica, para a qual estavam perdidos três anos. Em 2009, Manuela Ferreira Leite telefonou-me numa tarde tórrida de agosto. Gostaria que eu regressasse ao Parlamento e propunha-me que fosse cabeça de lista por Leiria. Resisti. Que não ponderava regressar à política. Que estava concentrada na minha vida académica. Que Leiria era um distrito tão complicado, (vivia-se na altura a convulsão da candidatura de Isabel Damasceno, com o PSD local a fazer oposição à candidata). Deu-me um dia para pensar. No dia seguinte insistiu e tinha que ser Leiria. Era preciso alguém de fora, sem envolvimento nas guerras internas do partido no distrito. E lá fui eu! Gostava genuinamente da seriedade e da assertividade da presidente. Não podia recusar tamanha confiança. Nessa legislatura integrei a direção do grupo parlamentar com José Pedro Aguiar Branco e mais tarde com Miguel Macedo. Retribui as oportunidades que me deram como sempre fiz: com trabalho. 

Em 2011, após outra legislatura interrompida, preparava-me para regressar à universidade. Para minha surpresa recebi um telefonema de Pedro Passos Coelho. Convidou-me a ser, de novo, cabeça de lista por Leiria. Respondi-lhe no tom que o meu espanto permitia: que não estava à espera, que não o tinha apoiado nas eleições internas que o levaram à presidência, que não o tinha acompanhado no seu percurso político. Retorquiu com a serenidade que o caracteriza: a minha surpresa só se explicava pelo facto de eu realmente não o conhecer bem. Se conhecesse saberia que nada daquilo lhe interessava. O que contava era a impressão que tinha do meu trabalho e a ligação forte ao meu distrito eleitoral. Nesse dia tive a primeira perceção, confirmada nos anos seguintes, de que se tratava de um homem superior. Em 2015 voltou a convidar-me para encabeçar a lista de Leiria. Aceitei, reconhecida. Já era o meu distrito de adoção.

Com gosto e empenho fiz parte dos dois governos que dirigiu e pela sua mão integrei a direção do partido. Com Pedro Passos Coelho aprendi o valor e preço da verdade na política. E nesses anos trabalhei muito.

Espero que tenha ficado claro que nunca, no tempo que levo de atividade política, pedi lugares. Nunca deixei de dizer o que pensava com o receio de perder lugares. Nunca me acocorei perante ninguém para manter lugares. Foi sempre do partido a iniciativa de me procurar.

Portanto, desculparão os que estão interessados em fomentar uma teoria da conspiração - esperando que ela os venha a ilibar de um eventual desaire eleitoral, legitimando o discurso da sua vitimização - mas não podem ou, seguramente, não devem, lançar calúnias sobre toda a gente.

Há quem não se esmifre por “lugarzinhos”, há quem não conspire para manter “lugarzinhos”, há quem não trema de medo por perder “lugarzinhos”. Há quem simplesmente queira trabalhar, porque foi para isso que foi eleito!

Existe no PSD, um lastro de fontes “próximas” da direção que insistem na ideia de que há no grupo parlamentar uma conspiração latente, destinada a desgastar a liderança. Se há, não a conheço. Não faço parte dela. Conspirar não bate certo com a minha natureza. O que quis dizer ao presidente do partido, disse-o, olhos nos olhos, na primeira e única reunião do grupo parlamentar em que até hoje participou.

Por isso, escusam de se afanar a fazer listas de nomes de “opositores” que não o são, e de alegados “críticos” que estão simplesmente calados, no seu posto, preparados para trabalhar. É a única coisa que querem. Trabalhar. Se não pelo líder, que os repudia, pelo partido, que especialmente em ano pré-eleitoral precisa, com certeza, de todos.

Será aceitável que o maior grupo parlamentar português tenha a maioria dos seus deputados arredados do debate político? Será razoável que tanta gente, que poderia contribuir para o combate que o partido tem pela frente esteja silenciada e impedida de exercer cabalmente o seu mandato? E porquê? Qual é o objetivo? É que nem os esforços, que reconheço, do líder parlamentar, que avaliará a falta que muitos lhe fazem para a luta política que dirige, conseguem furar o bloqueio imposto pela direção, onde parece haver gente cuja única tarefa, já que ninguém lhes vê outra, é vetar nomes e garantir a invisibilidade de algumas pessoas.

A resposta parece estar nesta obsessão de garantir que a tese da conspiração vencerá e justificará que muitos sejam “dispensados” no final da legislatura, teoria coadjuvada pelo silenciamento dos deputados, que conduza ao seu apagão. No que me respeita, podem colar-me os rótulos que quiserem. Continuarei a ser quem sou, e não, não me tornarei naquilo que dava jeito que eu fosse.

Sempre respeitei o cumprimento dos mandatos dos presidentes do partido, mesmo quando não me revi na estratégia ou na forma de estar de quem liderava. O voto democrático dos militantes dá-lhes esse direito. Mas também cedo aprendi com uma admirável militante do PSD que nunca se entrega o cartão. “Os líderes passam. Nós ficamos,” disse-me um dia Leonor Beleza.

O meu futuro político não conta. Nunca contou. O que me interessa a mim, que sou apenas uma entre dezenas, e a muitos que pensam como eu é que enquanto formos deputados, e venha lá no futuro o que vier, nos permitam fazer, com a dignidade inteira, aquilo para que fomos eleitos, pelo partido e pelo País. Deixem-nos trabalhar!

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