Maryse Condé ganhou o prémio alternativo ao Nobel da Literatura

O galardão é atribuído pela Nova Academia, que se dissolverá após a entrega do prémio em Dezembro, para colmatar a ausência da atribuição do prémio Nobel da Literatura este ano.

Foto
O vídeo da escritora Maryse Condé a agradecer o prémio alternativo ao Nobel que passou durante o anúncio desta sexta-feira LUSA/Janerik Henriksson

A guadalupense Maryse Condé é a vencedora do prémio alternativo ao Nobel da Literatura. Este galardão só será dado este ano e é da responsabilidade da Nova Academia, um órgão que se extinguirá em Dezembro, após a sua entrega no dia 9 desse mesmo mês. Este prémio foi criado em protesto contra o cancelamento da atribuição do Nobel da Literatura durante este ano, na sequência de um escândalo de assédio sexual

Em Agosto, tinha sido anunciado que a escritora fazia parte dos quatro finalistas do prémio, que incluíam também a vietnamita Kim Thúy, o britânico Neil Gaiman e o japonês Haruki Murakami, que em Setembro acabou por se retirar da corrida para se concentrar na escrita. Os finalistas foram votados online pelo público, a partir de uma lista de 47 nomeados pelos bibliotecários suecos.

A vencedora foi divulgada esta sexta-feira, em Estocolmo, numa cerimónia em que a escritora não esteve presente, tendo participado apenas através de um vídeo. Maryse Condé (n.1937), que não está traduzida em português, escreve romances desde os 11 anos, tendo publicado mais de duas dezenas de livros, tais como Hérémakhonon, de 1976, os dois volumes de Ségou, de 1984 e 1985, ou Desirada, de 1997. Também se dedicou à escrita de peças de teatro, livros para crianças e ensaios. A sua obra, disse Ann Pålsson, a presidente do júri, usa "uma linguagem precisa" e "descreve os danos do colonialismo e o caos do pós-colonialismo". 

Quando o prémio for entregue, em Dezembro, a ideia é ter um valor pecuniário de um milhão de coroas suecas (à volta de 96 mil euros), mas a campanha de crowdfunding da organização ainda está aquém desse objectivo. 

Recorde-se que a Academia Sueca decidiu não atribuir o Nobel da Literatura depois de um escândalo de abuso sexual e de crimes financeiros, que rebentou no final do ano passado com denúncias de 18 mulheres a um diário sueco.

O homem no centro do escândalo, o artista Jean-Claude Arnault, foi condenado no início deste mês a dois anos de prisão por violação.

Jean-Claude Arnault, casado com a académica e poeta Katarina Frostenson, membro do comité que decidia a atribuição do Nobel da Literatura, foi acusado de dois episódios de violação cometidos em 2011, ambos contra a mesma mulher.

Ao rebentar o escândalo, no final de 2017, a Academia Sueca cortou relações com o artista e pediu uma auditoria, que concluiu que Arnault não influenciou decisões sobre prémios e bolsas.

Contudo, descobriu-se que Katarina Frostenson era co-proprietária do clube literário do marido, que recebia regularmente apoio financeiro da Academia Sueca, um rompimento das regras de imparcialidade.

O relatório confirmou também que a confidencialidade sobre o vencedor do Nobel foi quebrada várias vezes.

Pressionada pela Fundação Nobel, a Academia Sueca lançou várias reformas e a decisão mais controversa foi a de adiar a atribuição do Prémio Nobel de Literatura, este ano, a primeira vez em sete décadas.

com Lusa

Sugerir correcção
Comentar