“O respeito pela dignidade da pessoa humana é a linha vermelha”, diz Marcelo

Para Marcelo, estamos a voltar “às angústias de há 100 anos”. O Presidente da República rejeitou comentar as eleições no Brasil, mas apelou a um combate de todos pelos direitos humanos.

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LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Pediram-lhe para falar sobre “futuros globais” e o Presidente da República não se fez rogado a abordar aquilo que para ele tem de estar no centro de qualquer futuro a nível global: a “dignidade da pessoa humana”. Marcelo Rebelo de Sousa nunca particularizou, recusou-se a comentar as eleições no Brasil, mas foi desfiando aquilo que considera ser o grande combate que se avizinha nos tempos próximos. “Que fique claro que o respeito da dignidade da pessoa humana é uma linha vermelha que não pode ser riscada nem beliscada. Mas atenção, a pessoa humana que valoramos é uma pessoa concreta, de carne e osso, não é uma cómoda abstracção, álibi para a indiferença e para a inacção”, defendeu no encerramento das celebrações dos 50 anos da Universidade Católica Portuguesa.

Mas para o Presidente da República, neste momento, não basta proclamar o princípio ou os valores, é preciso não olhar para o lado nem ficar inerte: “Não basta defendê-la, preservando a sua dignidade, é preciso combater por esta dignidade, porque a inércia nestes tempos e nos mais próximos ser-lhe-á adversa.” Nunca particularizando, nem referindo directamente sobre algum caso concreto, o contexto em que fala não pode ser dissociado da mensagem que levou aos alunos da Católica.

O discurso foi curto, mas recheado de caminhos e direcções a seguir, com base em valores e princípios que não quer ver beliscados. Para o Presidente é preciso saber “canalizar a mudança” e com isso “fazer vingar um sentido personalista”, mas não só do indivíduo como também da comunidade.

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Este é um trabalho necessário agora, diz, porque “os tempos vão exactamente na direcção oposta” a essa defesa das pessoas. “O modismo que vivemos é um regresso às angustias de há 100 anos, apelando ao egocentrismo, à luta pela sobrevivência e à salvação a sós, ao imediato, ao superficial, ao imageticamente mais básico e fácil de apreender e aceitar, à rejeição da abertura, da disponibilidade para o outro”, argumentou. “Neste suceder de ciclos agora em ciclos agora em ritmo de frenesim para não dizer de corrupio, a fase que vivemos - e viveremos por mais uns apreciáveis anos, esperemos que não por mais de uma década - , é muito ingrata. Durante ela teremos de revigorar valores e princípios, manter posturas essenciais, reforçar solidariedades e por isso os futuros são globais”, defendeu.

Esta tarefa que terá de ser abraçada a longo prazo pode não ser fácil nem tão pouco ser entendido por todos. “Comporta posições radicais? Pode comportar. Impopulares? Certamente. De questionável percepção generalizada, por ventura. Queremos futuras globais, mas globais mais, de paz e não de guerra, de multilateralismo e não de fechamento unilateral, de defesa dos direitos das pessoas e não da sua entorse, se útil ou conveniente. De busca de soluções sustentáveis e úteis que evitem becos sem saída, exclusões, migrações e refugiados, e não fórmulas tampão, por natureza conjunturais e frágeis, concebidas à medida dos egoísmos e das intolerâncias da moda”.

Esta última frase parece ter saído direita a uma crítica à decisão dos países da União Europeia de gestão dos fluxos de refugiados criando zonas de concentração de refugiados do lado de fora da Europa, decidida antes do Verão deste ano.

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