Tiny Fuppets, o falso fenómeno da animação portuguesa

Há cinco anos que não havia novos vídeos de uma série bizarra criada por Scott Gairdner, um cómico norte-americano, que é uma suposta imitação portuguesa dos Marretas.

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Os <i>Tiny Fuppets</i> são desenhos animados com uma fixação por Sumol
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Os Tiny Fuppets são desenhos animados com uma fixação por Sumol DR

Os Tiny Fuppets são um dos maiores fenómenos da animação portuguesa, há mais de 20 anos a fazer as delícias de uma legião de fãs. Em 2009, tentaram conquistar os Estados Unidos, mas isso ainda não aconteceu. Os desenhos animados, que contam as aventuras e desventuras de Kormit, Senhora Mulher, Gonzor, Tummi e Animanuel, entre outros, são uma criação de Arturo Lima, um mago da animação. Depois de cinco anos sem vídeos novos, voltaram esta semana à Internet.

E se nunca ouviu falar neles, não há problema. Como é óbvio, não existem realmente. São uma criação de Scott Gairdner, um cómico de sketches que se notabilizou no YouTube antes de ser contratado pelo site Funny or Die e posteriormente por Conan, tendo também criado uma série de animação para a Comedy Central, Moonbeam City. Foi também um dos impulsionadores originais do culto à volta de The Room, o clássico do cinema tão-mau-que-é-bom.

Alguém um dia lhe mostrou Ratatoing, um filme animado de 2007 que é, para usar um eufemismo, muito inspirado em Ratatouille, o filme da Pixar. E aí descobriu todo o catálogo da Vídeo Brinquedo, uma produtora brasileira, entretanto fechada, que se inspirava em filmes animados para fazer versões baratas. Aprendeu, muito rudimentar e lentamente, a fazer animações e nasceram os Fuppets.

Os Fuppets são, como se pode ver pelos nomes e a estética, "muito inspirados" nos Marretas, especialmente, pela pequenez das personagens, em Muppet Babies. As aventuras são básicas, envolvem acontecimentos como os Fuppets a criarem uma página de internet que os leva a receberem uma carta de agradecimento do "presidente da Internet" (que se chama "Arriaga Salazar") ou uma tosse que é curada através do consumo de Sumol. "Sumol é o maior titã no reino de bebida" é, aliás, uma frase que é dita aqui. Os diálogos parecem vir de um tradutor automático – provavelmente com a ajuda de falantes de português –, com actores americanos – alguns claramente fluentes em espanhol – a lerem-nos e legendas em inglês que são ligeiramente diferentes daquilo que está a ser dito e, por vezes, alguns actores brasileiros de carne e osso. É tudo bizarro e gloriosamente estúpido.

O fascínio por Sumol regressa na nova leva de vídeos, que introduzem o facto de agora os Tiny Fuppets serem feitos com tecnologia 4DX. É uma tecnologia, é-nos explicado num dos vídeos, para a qual é necessário usar óculos e ter um técnico que instale a capacidade 4DX numa cadeira. Neste universo, os óculos são uma oferta, infelizmente não disponível na Madeira, da cadeia de supermercados Plus Minus. Não é a parte mais invulgar deste regresso dos Fuppets. No fim do primeiro novo episódio propriamente dito, os créditos de animadores 3D, que até então não existiam tão extensivamente, envolvem, entre outros nomes, uma listagem do elenco de Sangue do meu Sangue, o filme de João Canijo, e de jogadores da Selecção Nacional de Futebol.

É ainda mais estranho do que era da última vez que os Fuppets apareceram, e, com todas os seus detalhes e erros deliberados de tradução, torna-se ainda mais hilariante para portugueses.

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