Museus holandeses identificam 170 peças confiscadas por nazis a famílias judias

Peças terão sido roubadas ou compradas sob coacção durante a ocupação nazi. Abre-se agora a porta à devolução das obras aos seus legítimos proprietários — ou aos seus descendentes.

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Rijksmuseum, em Amesterdão Miguel Manso/ Arquivo

Um projecto da Associação de Museus da Holanda identificou um total de 170 obras de arte que terão sido roubadas ou confiscadas pelos nazis a famílias judias durante a Segunda Guerra Mundial. Os quadros, desenhos e esculturas estão distribuídos por 42 instituições do país. Este inventário abre agora a porta à possibilidade de estes bens virem a ser restituídos aos seus legítimos proprietários ou aos seus descendentes, dado que muitos morreram durante o Holocausto.

Nem todas as peças fizeram o mesmo caminho até aos museus holandeses. Podem ter sido roubadas, confiscadas ou compradas sob coacção por nazis a coleccionadores judeus. Do lote de peças identificadas fazem ainda parte 13 objectos de culto que se crê terem sido roubados ou adquiridos sob ameaça entre 1933 e 1945.

Entre as obras de arte mais célebres encontram-se Salomé com a cabeça de João Baptista de Jan Adam Kruseman, actualmente na posse do Rijksmuseum, em Amesterdão; Aquarela 2 de Wassily Kandinsky, do Museu municipal de Stedelijk e Lamentação pela morte de Cristo, de Hans Memling, exposta no Boymans van Beuningen, em Roterdão.

A investigação envolveu a realização de um inventário de todas as aquisições feitas entre 1933 e 1955 e a análise de arquivos privados, registos de compra, anuários e qualquer documento que pudesse comprovar a compra de uma obra. Até antigos funcionários dos museus foram entrevistados.

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Salomé com a cabeça de João Baptista de Jan Adam Kruseman Associação Holandesa de Museus

Os museus tentaram ainda perceber se a venda foi feita de livre vontade ou sob coacção. Foi nesta fase que entraram em cena os historiadores da Comissão para a Restituição do Instituto para a Investigação de Guerra, Holocausto e Genocídio.

Desde 2000, ano de fundação daquela comissão, que examina denúncias apresentadas por familiares das vítimas do Holocausto, já foram identificadas e devolvidas 460 obras aos seus legítimos proprietários.

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Aquarela 2 de Wassily Kandinsky Associação Holandesa de Museus

Em 2003, uma das investigações realizadas levou à descoberta um quadro roubado no espólio da família real holandesa. O bosque de Haia, de Joris van der Haagen, havia sido comprado pela rainha Juliana a um vendedor de arte em 1960, sem que se conhecesse a sua história. Descobriu-se que o dono tinha sido forçado a doa-lo a um banco nazi em Amesterdão. Foi devolvido em 2015.

Chris Janssen, um porta-voz da Associação de Museus, disse ao Guardian que esta investigação era importante para “fazer justiça à história”. “Um museu só pode mostrar uma peça de arte se a história ou a História por detrás do objecto for clara”, defende.

“Noutras palavras: um museu tem de saber por que caminhos uma peça de arte andou antes de chegar ao museu. É a forma possível de informar os visitantes de uma boa maneira”.

A Holanda é apenas um dos países que têm tentado encontrar os proprietários legítimos das obras de arte expostas nos seus museus. Este esforços também é realizado em França, Alemanha, Áustria e Reino Unido.

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