Museu da Língua Portuguesa vai reabrir “actualizado e ampliado” no final de 2019

Uma exposição em Lisboa mostra um pouco do Museu da Língua de São Paulo, que reabre dentro de um ano. Na Central Tejo, até dia 21.

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A Língua Portuguesa em Nós, no edifício da Central Tejo (MAAT) Nuno Ferreira Santos
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A Língua Portuguesa em Nós, no edifício da Central Tejo (MAAT) Nuno Ferreira Santos
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A Língua Portuguesa em Nós, no edifício da Central Tejo (MAAT) Nuno Ferreira Santos
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A Língua Portuguesa em Nós, no edifício da Central Tejo (MAAT) Nuno Ferreira Santos

Quem quiser uma pequena aproximação ao Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, que deverá reabrir ao público dentro de um ano, tem-na em Belém, até 21 de Outubro. Chama-se A Língua Portuguesa em Nós, está no edifício da Central Tejo (dizem que é no MAAT porque agora esta sigla alastrou ali a todo o espaço expositivo da EDP) e, mais do que uma exposição, é um cartão-de-visita de um museu em andamento, itinerante, como prova de vida até renascer das cinzas. Inaugurado em 20 de Março de 2006, foi destruído por um incêndio em 21 de Dezembro de 2015 e espera-se agora que reabra em Dezembro de 2019. As fachadas e a cobertura já foram reconstruídas, falta recuperar o interior, para que possa reabrir, mas “actualizado e ampliado”, como afirmou em Belém esta terça-feira o secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, Hugo Barreto, na inauguração lisboeta.

Inaugurada oficialmente no dia 9 de Outubro mas aberta desde dia 6, já somava 15 mil visitantes, disse Hugo Barreto, sublinhando que o que é mostrado em Lisboa (e que já andou por Cabo Verde, Angola e Moçambique) se trata de “pequena representação” do museu, onde se é “visitante e visitado ao mesmo tempo”. O “nós” do título tem, aqui, um triplo significado: além da primeira pessoa do plural, é também unidade de navegação e os nós (de corda) “que nos embaraçam e desembaraçam”, unindo-nos nessa dicotomia. Formada por vários painéis verticais onde se aborda a evolução histórica do idioma (do latim ao jargão da era digital), acrescidos de outros mais propagandísticos acerca do valor e expansão da língua no globo, a exposição tem ainda um espaço para consultar livros e dados armazenados informaticamente, além de três blocos com projecções audiovisuais: num deles é possível gravar depoimentos em vídeo, para a posteridade; noutro mostra-se a relação da língua com a gastronomia, com exemplos de vários países (das receitas aos ingredientes); e num terceiro cruzam-se poesia e música num diaporama contínuo, de Almirante a Rappin’ Hood, dando a ouvir, por exemplo, Manuel Bandeira e Haroldo de Campos nas suas vozes, Pessoa e Guimarães Rosa na voz de Bethânia, Nelson Rodrigues na voz de Guinga ou mostrando como o coqueiro de Helena Lanari no poema de Sophia se enlaça naturalmente ao coqueiro de Dorival Caymmi na sua Saudade de Itapoã. E há ainda, tão actual quanto no momento em que foi escrito, o samba Juízo final de Nelson Cavaquinho, cantado na voz do próprio: “O sol há-de brilhar mais uma vez/ A luz há-de chegar aos corações/ Do mal será queimada a semente/ O amor será eterno novamente.”

África, Lisboa, Óbidos

A presença maior é brasileira porque a exposição não esconde (nem podia fazê-lo) que se trata de um olhar brasileiro sobre o idioma. A socióloga e cineasta Isa Grinspum Ferraz, consultora da exposição (juntamente com o compositor, escritor e professor de literatura José Miguel Wisnik, que não pôde estar presente em Lisboa), recorda-se das lágrimas no dia em que o museu ardeu. Estava no trânsito, chovia, e telefonaram-lhe da rádio a pedir um depoimento sobre o incêndio. Parou o carro e chorou. “Foi verdadeiramente triste”.

Mas agora, diz ela ao PÚBLICO, a ideia é crescer. “Fizemos uma avaliação de toda a exposição anterior, para ver o que devia ficar como era e o que tinha necessariamente de ser actualizado, porque houve coisas que a gente não conseguiu tratar com a devida importância na primeira versão. Muita coisa mudou.” Por exemplo: “Há uma instalação que se chama línguas do mundo, com o português como uma das 7 mil línguas faladas hoje. Falamos das línguas ágrafas, das línguas que morrem. A segunda é justamente o ‘nós’ da língua portuguesa, trazendo para o povo brasileiro (é um museu que se pretende altamente democrático) a variedade da língua portuguesa falada hoje no mundo, com os seus diferentes sotaques, recortes e contradições.” A ortografia não é, aqui, prioridade, diz Isa. “Essa não foi uma preocupação nossa, embora isso possa vir a ser debatido. Porque vai haver todo um espaço de investigação, de pesquisa, exposições temporárias.”

A passagem da exposição por África (Cabo Verde, Angola, Moçambique) trouxe “muitos contributos” e diferentes olhares a ter em conta no futuro, dizem-nos. Mas a exposição, tal como se apresenta em Lisboa (com actividades paralelas como projecção de filmes, mesas literárias, seminários), terá depois pouso assegurado em Óbidos, Vila Literária. “Com carácter permanente ou de longa duração”, foi anunciado na inauguração.

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