No quintal da casa de Ricardo está plantada uma pista de roller skating

Da pista, em obras, vê-se uma casa amarela, que parece ganhar cor quando a luz do sol a encontra. “Vamos alargar a pista”, diz-nos Armindo Silva, pai de Ricardo Esteves, a figura esguia de fato amarelo e azul que, mal patina pista adentro, dá ordens aos mais novos. É um dos treinadores do Arsenal de Canelas, na freguesia com o mesmo nome que fica em Estarreja, Aveiro. Mora na casa amarela que se destaca e congratula-se pela “vista privilegiada”: “Do meu quarto dá para ver, nasci praticamente na pista.”

Aos 29 anos, conjuga a tarefa de fazer os atletas daquele clube patinarem o mais rápido possível com a sua profissão — é comercial de vendas na área dos moldes. “É cada vez mais difícil conciliar, mas faz-se isto pela diversão, as amizades e a competição”, explica, antes de referir que a área dos moldes é, “quase tradicionalmente”, própria de Aveiro. Se a indústria está no sangue aveirense, também estará o roller skate. No treino a que o P3 assistiu, deslizaram pista fora atletas de todas as idades — alguns com a idade que Ricardo tinha quando começou, aos cinco. “Desisti da competição para me dedicar só a dar treinos, mas o bichinho fica sempre.”

Não é para menos: aos seis anos fez-se “campeão nacional em casa” (e ao pé da sua casa) e, a partir daí, foi somando outros títulos. No palmarés ainda constam medalhas de bronze em campeonatos europeus e mundiais, em equipa. Por isso, persiste o tal “bichinho”, mas também a liberdade que os patins lhe dão; é colocar o mundo em off e deslizar pela pista, cujo verde que a pinta o atira para uma sensação de conforto. “É o que eu mais gosto de fazer na vida, o que eu mais amo.” Sabemos que é verdade quando o vemos a tentar arranjar palavras para traduzir o que os patins lhe dão. “Sou um sortudo por ter isto ao pé de casa.” Ao lado das bancadas em cinza gasto há uma homenagem onde se lê o nome do avô, Armando Rodrigues, o impulsionador da modalidade em Canelas. A patinagem também corre na família.