Como escrever sem condescendência - e sem ofender os eleitores - sobre o voto em Bolsonaro?

O melhor é ser honesto: acho que os brasileiros estão malucos.

Sim, tenho a certeza que estão fartos da corrupção, da insegurança, da impunidade dos ricos e da impotência dos pobres.

Mas votando em Bolsonaro estão a brincar com o fogo. Querem que se saiba que estão no desespero. Sim, tiveram a coragem de correr um risco enorme. Não, não havia outro candidato com uma chance de ganhar que estivesse livre da suspeita de corrupção.

Mas não se pode votar contra a corrupção. É sistémica. Acaba por corromper todos. É dificílimo um partido ou um indivíduo ligado a um partido conseguir desligar-se da corrupção. O preço do poder é receber as luvas. Recusá-las é perigoso para quem as recebe sistematicamente.

Há um excesso de ambição na maneira brasileira de votar. É quase como se ainda acreditassem que um só homem ou uma só mulher pode salvar o Brasil. O candidato que mais prometeu esta façanha impossível - até porque o Brasil já está salvo há muito tempo - foi o mais recompensado.

É como uma disposição romântico, de jogar tudo num conhecido ou desconhecido, tanto faz. É como a selecção brasileira a ganhar mundiais. Os EUA jogam Trump? O Reino Unido jogou "Brexit"? Então o Brasil joga Bolsonaro. Ganhou o Brasil.

Ou será uma jogada contra a insegurança, contra o crime e contra a banalização da violência? Terão votado em Bolsonaro para ver se ele consegue fazer coisa?

O que lhes passou pela cabeça, santo Deus?