Cinema Charlot reabriu mas só por um dia e para soprar as velas do Brasília

Passado quase 20 anos fechado, o Cinema Charlot, no coração da Boavista, no Porto, voltou a abrir portas para exibir o filme Rocky. A reabertura permanente não está nas mãos do condomínio, apesar do apoio.

Fotogaleria
André Rodrigues
Fotogaleria
André Rodrigues
Fotogaleria
André Rodrigues

Depois de 25 anos em funcionamento, o Cinema Charlot, dentro do Shopping Center Brasília no Porto, fechava as suas portas, em 2001. Nesta terça-feira, o centro comercial marcou os seus 42 anos reabrindo as portas daquele cinema para duas sessões, uma às 15h e a outra às 19h. O filme escolhido foi Rocky, com Sylvester Stallone como protagonista, que estreou no mesmo ano em que o Brasília abria pela primeira vez.

A poucos minutos do início da primeira sessão, às 15h, poucos eram os que tinham entrado no Cinema Charlot. Não chegavam aos 20 os que permaneceram para ver Rocky Balboa em cena e longe ficaram de preencher os 400 lugares daquela sala, mesmo sendo a entrada gratuita.

Consigo, António Assunção traz as boas recordações dos tempos áureos daquela sala. Hoje com 71 anos, tinha à altura da inauguração cerca de 30 e, por isso, não foram raras as vezes em que ali parava, “era a moda”. Apesar de não ter sido lá que a pescou, à namorada, nos tempos de namoradeiro era por ali que passavam alguns dos seus encontros. “O fecho foi uma tristeza, é sempre uma perda”, notou. António lembrou ainda que “quando não havia nada que fazer ao domingo à tarde, havia um cinema que estava à mão e, ainda por cima, com filmes de qualidade não comerciais”.

De visita à mesma sala e só mesmo de visita, estavam dois jovens. Vasco e Tomás, os dois de 24 anos, tinham outros planos para a tarde, mas foram recordar a sala onde, “em miúdos”, viram o Tarzan. “Viemos ver como é a sala, já não vinha aqui há muitos anos e queria ver como é que isto está”, apontou Vasco. Segundo Tomás, “é engraçado, não é [uma sala] propriamente muito moderna, mas é isso que é giro”.

“Talvez já não tivesse aquele movimento de quando foi inaugurado o centro, em que vinham camionetas de todo o lado para ver as escadas rolantes”, diz Minervina Soares, ao lembrar o encerramento da sala à qual agora regressou. “O fecho foi uma pena, mas abriram aqueles grandes, os outros”. Os outros, aqueles para onde fugiram as massas e votaram o Brasília ao esquecimento, ou quase.

Foto
André Rodrigues

Hoje, o centro comercial está a tentar reerguer-se, depois do abalo que sofreu com a chegada das grandes superfícies comerciais. Há oito anos na administração do condomínio, Luís Pinho vê “um balanço muito positivo a nível de reestruturação, viabilidade financeira e tudo o que é gestão pura e dura”.

De lado, ou seja, com um balanço menos positivo, fica a parte comercial, diz, apanhada pelo pico da crise. “Espero, a partir de agora, começar a dizer que está a melhorar porque o Porto está nesta movida e nós queremos que o Brasília seja também um ícone, um marco na cidade”, aponta.

A iniciativa, que marcou o aniversário, deixou ainda a vontade de abrir as portas daquele espaço, que pertence ao Millenium BCP, mais vezes. Luís Pinho apontou que, apesar dos quase 20 anos em que esteve fechado, aquele é um lugar “completamente operacional”. “Achamos que é um equipamento que merece ser aproveitado e queremos que as entidades do Porto e as instituições se interessem, olhem para ele e vejam um equipamento que podem utilizar para muita coisa”, concluiu.

Sobre a possibilidade de abrir portas mais vezes, o dirigente não conseguiu apontar possíveis perspectivas futuras. “Não está nas mãos do condomínio que, evidentemente, tem todo o interesse que o cinema funcione permanentemente”, rematou.

Texto editado por Ana Fernandes

Sugerir correcção
Comentar