Pausa para reflectir

Este é o momento certo para aproveitar a paragem das competições profissionais da I Liga e para o Conselho de Arbitragem (CA) promover uma reflexão, análise e discussão sobre o que tem sido a arbitragem destas primeiras sete jornadas. Tudo isto, num conceito de profissionalismo, deveria ser feito em conjunto com os árbitros e assistentes, numa acção que seria de formação, mas sobretudo de reflexão, até para se perceber se, por um lado, as indicações que foram dadas aos árbitros no inicio de época estão ou não a ser cumpridas e que efeitos estão a ter no jogo propriamente dito, e, por outro, para avaliar a questão do momento, que se prende com o videoárbitro (VAR) e a interpretação do protocolo. Mais ainda, essa reunião ou acção deveria gerar conclusões, estatísticas e resultados práticos, que deveriam ser divulgados e apresentados à comunicação social e ao público em geral.

À margem desta reflexão, que eu acho que deveria ser feita, faço eu hoje aqui o meu momento de pausa, reflexão e análise em relação aos aspectos que considero mais positivos e aos aspectos que considero não estarem claramente a funcionar. De tudo o que foi recomendado, o que salta mais à vista e é um ponto positivo e com efeitos no jogo é a “recuperação do tempo perdido”, que popularmente designamos como “descontos de tempo”, que os árbitros começaram esta época a dar face às inúmeras críticas que foram feitas ao pouco tempo útil de jogo, às perdas de tempo, ao número elevado de lesões e assistências médicas. Nesse sentido, passámos dos tradicionais três ou quatro minutos, para cinco ou mais minutos.

Tomemos como exemplo esta última jornada: Portimonense-Sporting, 5 minutos; Sp. Braga-Rio Ave, 6 minutos; Boavista-Desp. Aves, 7 minutos. Decorrente desta mesma situação também foi pedida aos árbitros “coragem” para advertir os guarda-redes que nas reposições de bola, nomeadamente nos pontapés de baliza, perdem tempo excessivo, deixando de mostrar o cartão amarelo ao minuto 90 e passando a fazê-lo, se necessário for, muito mais cedo. E isto tem sido cumprido, como também foi possível perceber na última jornada, em que Casillas foi advertido ao minuto 19, no clássico Benfica-FC Porto, e em que Leo, guarda-redes da equipa algarvia, foi advertido ao minuto 60 no Portimonense-Sporting.

Outro aspecto que também tem sido melhorado é o de não penalizar os pequenos contactos entre jogadores, nomeadamente nas áreas, deixando assim jogar mais, não interrompendo por qualquer motivo o jogo, com a ideia de que para ser mesmo falta é preciso que uma acção (agarrar, empurrar, carregar, etc.) tenha uma causa e um efeito ou consequência, ou seja, que na sequência dessa acção o jogador que a sofreu seja impedido de jogar a bola, ou a perca, ou não possa chegar a ela.

Também foi pedido aos árbitros menos tolerância para com os protestos excessivos e linguagem injuriosa, grosseira e ofensiva, pois, além de descredibilizar a arbitragem, põe em causa a relação do árbitro com o jogo e com os seus intervenientes, nomeadamente com elementos que estão no banco, sobretudo dos dirigentes ou técnicos. Nesse sentido, tivemos uma jornada cheia de exemplos, sendo que os casos maiores aconteceram no Sp. Braga-Rio Ave e no Boavista-Desp. Aves, com as expulsões de treinadores principais e até de adjuntos.

No pólo oposto dos aspectos mais visíveis, temos a questão do VAR e da forma como o protocolo está a ser interpretado e posto em prática. Não acho que a máxima da intervenção do VAR, accionada só em casos em que a tomada de decisão inicial da equipa de arbitragem seja um “erro claro e óbvio”, esteja a ser a melhor opção. Para mim, sempre que um lance, de entre os contemplados no protocolo, tivesse tudo para ser punido, como dizemos em linguagem futebolística, desde “que cheirasse a penálti ou a vermelho”, por exemplo, deveria o VAR intervir e “obrigar” o árbitro a analisar as imagens no monitor que está no terreno de jogo.

É que, com esta premissa do erro claro e óbvio, estão a passar por cima de inúmeros casos que os adeptos e o futebol em geral não conseguem entender. Vejamos alguns exemplos desta jornada: Sp. Braga-Rio Ave, penálti cometido por Bruno Viana sobre Galeno (90+6'); Tondela-Nacional, penálti de Hélder Tavares (38'); Boavista-Desp. Aves, cartão vermelho por mostrar a Cardoso por entrada sobre Miguel Oliveira (44'). Não corrigir as nossas falhas ou faltas é o mesmo que cometer novos erros e, nessa perspectiva, a arbitragem tem que estar permanentemente a trabalhar, treinar, aprender, corrigir e acertar. O futebol agradece.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários