Não pode haver meias-verdades em Tancos

 Há um alarmante clima de incerteza sobre quem está a dizer a verdade em mais um lamentável episódio do caso de Tancos. Será o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que desmentiu “categoricamente” ter tido conhecimento da encenação da entrega das armas num ignóbil conluio (pelo menos é essa a pista da investigação) entre agentes da GNR, agentes da Polícia Judiciária Militar e o alegado responsável pelo roubo das armas? Será o major Vasco Brazão, que sob juramento disse ao Tribunal de Instrução Criminal que deu conhecimento dessa encenação ao ministro? Por muito benévola que seja a nossa atitude perante mais este infeliz desenvolvimento da história, a verdade é uma e só uma: o Governo de António Costa está a viver um dos seus momentos mais dramáticos e o regime está ser alvo de um poderoso factor de descredibilização.

Perante as declarações dos dois principais envolvidos nesta história, não temos razões objectivas para acreditar mais num do que em outro. Ambos têm direito à presunção da verdade e idoneidade. O major está numa situação mais delicada por ter de responder perante a Justiça. O ministro sabe que uma eventual fragilidade da sua tese colocará todo o Governo numa situação de descrédito. Ambos têm fortes motivações para dizerem a verdade. Ou para mentir. E todos nós temos razões para pedir elementos que desfaçam as dúvidas. Um ambiente opaco, insidioso e pérfido como o que vivemos é absolutamente insustentável. A política já não é capaz de nos dar as respostas que precisamos e terá de ser, uma vez mais, a Justiça a dizer quem mentiu e quem deve ser punido pela mentira.

Tancos, como Pedrógão ou como a Operação Marquês acaba de se tornar um momento marcante – porque deixa no ar um dramático cheiro de putrefacção. Ou Vasco Brazão é desmentido, ou teremos um governo que fez da mentira e da manipulação uma prática para se sustentar no poder. Ou Azeredo Lopes é desmentido, ou teremos a confirmação de que vivemos uma época em que uma polícia de investigação criminal adoptou a manipulação como expediente e a cobardia da acusação infundada como rotina. Não podemos viver nem com uma, nem com a outra mistificação. Exige-se a verdade e, nessa exigência, nem o Ministério Público, nem o primeiro-ministro, nem os comandos militares, nem o Presidente da República se podem poupar a esforços. Tancos é uma história demasiado abjecta para ficarmos pela meia-verdade.

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