Destaques da semana de moda de Paris: da alta competição em passerelle ao final de uma era para Celine

A primeira colecção de Hedi Slimane na Celine era um dos momentos mais aguardados desta temporada — e para muitos representou o final de uma era. Já a marca de culto de Virgil Abloh, Off-White, apresentou uma colecção inspirada em atletismo, misturando modelos e atletas na passerelle.

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Reuters/GONZALO FUENTES

Com a semana de moda de Paris termina mais uma temporada de apresentações, desta vez, da estação Outono/Inverno 2018. Assim acaba o mês, que começou em Nova Iorque e passou depois por Londres e Milão.

Uma chegada e uma partida para a Celine

No desfile introdutório de Hedi Slimane na Celine, o criador francês mostrou uma mulher bem diferente daquela a que os leais seguidores de Phoebe Philo (também conhecidos como philophiles) estavam habituados. Em vez da estética minimalista, elegante e ao mesmo tempo apropriada para o trabalho e dia-a-dia, Slimane propôs uma imagem de vida noctura (Paris La Nuit era o título), com uma colecção de mais de 90 peças, cheia de vestidos mini, com tecidos brilhantes, ombros grandes e preto como cor dominante. O criador esteve entre 2012 e 2016 à frente da direcção criativa da Saint Laurent (período durante o qual deixou cair o primeiro nome, Yves, sendo que agora retirou o acento agudo de "Céline") e antes disso foi director criativo na Dior Homme. Entrou em funções em Fevereiro deste ano e no seu primeiro desfile para a Celine, introduziu uma colecção de homem, que é, na verdade, unisexo. O desfile assinalou o final de uma era, deixando muitos fãs da marca de luto. 

Off-White em alta competição

Com uma ascensão meteórica ao longo dos últimos meses, Virgil Abloh tornou-se um dos nomes mais celebrados na indústria na moda — não só na sua marca de streetwear de culto, conhecida pelas riscas diagonais a preto e branco, mas também pela chegada à Louis Vuitton, como director artístico da colecção de homem. OCerto é que seja qual for a direcção que o criador natural de Chicago tomar, tem hoje uma fiel base de seguidores, que inclui algumas das celebridades mais influentes do momento. Veja-se pela apresentação da última colecção, inspirada no atletismo, que juntou supermodelos como Karlie Kloss, Kendall Jenner, Bella Hadid e Romee Strijd e atletas como Katarina Johnson-Thompson (de heptatlo) e Cecilia Yeung (salto em altura). A ligação entre o material desportivo e o tule teve como origem o famoso vestido preto com uma saia de tule que Serena Williams usou em campo, na última edição do Open dos EUA — o resultado de uma colaboração entre Abloh e a Nike. 

As origens de dança da Dior

Coube a Christian Dior a tarefa de abrir a semana de moda de Paris. Com uma coreografia criada e interpretada pela bailarina isrealita Sharon Eyal (ao lado de oito outros bailarinos), o desfile da Dior apontou para as origens da marca, intrinsecamente ligada à dança. Nesta estação, Maria Grazia Chiuri queria "falar da dança de um ponto de vista diferente", conta à Vogue. "Acho que a dança e a moda estão muito perto, ambas falam sobre o corpo. Coreografias modernas falam sobre liberdade", acrescenta. Assim, as silhuetas dos vestidos eram soltas e fluidas, sem corsettes a condicionar. 

A praia da Chanel

A maison francesa levou os convidados à praia, dentro do Grand Palais. As modelos desfilaram descalças — de sapatos nas mãos ou fixos às malas —, enquanto as ondas enrolavam na areia. Não obstante o areal, o clássico tweed da Chanel apareceu, por exemplo, em casacos, coletes, saias e vestidos, na maioria em tons mais claros. Mais inesperada foi a entrada dos calções de ciclismo — uma tendência que tem dominado as últimas estações — na colecção da maison francesa.

Saint Laurent sobre água

Se na Chanel as modelos caminharam na areia, em Saint Laurent desfilaram confiantemente sobre um lençol de água. Com a Torre Eiffel como pano de fundo — como tem acontecido nas últimas estações — e uma série de palmeiras brancas alinhadas ao longo da passerelle, o desfile encerrou o segundo dia da semana de moda. Sempre com uma predominância de preto, o tayloring da Saint Laurent mistura-se nesta colecção com influências de western. Quem assistia ao desfile — que coincidiu com o dia em que Bill Cosby recebeu uma sentença de três a dez anos de prisão e com a multa e sentença de três meses atribuída a um homem por dar uma palmada no rabo a uma mulher, numa paragem de autocarro perto de Paris — não estava totalmente alheio ao clima social, aponta a Vogue. O que é que isso tem a ver com as roupas? "Talvez que as mulheres podem ter a capacidade de se sentirem sexy exactamente da forma como desejam, sem o medo a qualquer momento, incluíndo com os micro calções e bodies  da Saint Laurent", escreve a revista. 

Portugueses em Paris

Trocando Londres — onde a marca tem presença no calendário oficial desde 2013 — por Paris, Marques'Almeida mergulharam na tradição portuguesa, com uma colecção de resort inspirada em técnicas, silhuetas e padrões portugueses. Das referências a Viana do Castelo à imagem dos xailes com franjas, esta é uma interpretação pouco literal "de quem já está a viver em Londres há muitos anos", comentou Marta Marques ao PÚBLICO, por telefone. Também com o apoio do Portugal Fashion — embora fora do calendário oficial de Paris — Diogo Miranda e Luís Buchinho apresentam no mesmo dia as suas colecções esta quarta-feira, ambos na Universidade de Paris Descartes.

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