Costa não se quer casar com PCP e o PCP também não se quer casar com Costa

Há divergências inconciliáveis na relação entre o Governo e os comunistas que impedem que a coligação se institucionalize, admitem as duas partes.

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João Oliveira,João Oliveira LUSA/RUI MINDERICO,LUSA/RUI MINDERICO
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António Costa LUSA/TIAGO PETINGA

As relações correm melhor quando as duas partes conhecem os seus limites e sabem o que querem desse relacionamento – seja qual for o nível de compromisso. Parece que é precisamente isso que se passa entre o Governo e o PCP. Depois de na segunda-feira António Costa ter rejeitado uma coligação formal com os partidos à sua esquerda devido ao “evidente” grau de “divergência em matérias essenciais”, foi a vez de o líder parlamentar comunista reiterar que pouco mais se pode esperar do que um eterno namoro entre PCP e Governo.

“Dá para sermos amigos, não dá para casar”, afirmou o primeiro-ministro em entrevista à TVI, admitindo que não há espaço para um grau de compromisso mais elevado”. O comunista João Oliveira preferiu manter o vocabulário político em vez do amoroso. “Para nós, a integração do Governo não é uma questão deste ou daquele lugar; é uma questão de saber que política é que o Governo faz, para saber se o PCP poderia ou não integrar um governo”, respondeu o líder da bancada comunista à margem das jornadas parlamentares que decorrem em Santarém.

Porque os comunistas não aceitariam casar-se sem que houvesse um acordo pré-nupcial com vários compromissos prévios: “Para haver condições para que o PCP integre um governo tem de haver, à partida, a definição de uma política que corresponda aos anseios dos trabalhadores, que dê resposta aos problemas estruturais do país e que, rompendo com a política de direita, abra uma perspectiva de desenvolvimento e progresso do nosso país.”

E os comunistas sabem que o PS não faria os compromissos que o PCP exige. “Reconhecemos que, com as opções que o PS faz e com os compromissos a que continua amarrado, isso é muito difícil de acontecer.” Por isso, se a convergência a que conseguiram chegar em 2015 não permitia casarem-se, também não será agora que isso acontecerá, numa altura em que já estão praticamente esgotadas as razões principais que os juntaram – tirar a direita do poder e repor direitos e rendimentos.

E é João Oliveira que assume que o namoro não tem grande futuro, porque a faísca inicial está a apagar-se e os arrufos foram aparecendo. “Eu julgo que essas diferenças e essas divergências vão ficando mais claras ao longo do tempo sempre que, propondo nós soluções para os problemas do país, as opções do PS impedem isso.” 

E as discordâncias vão-se acumulando, contabiliza: “Em matéria de legislação laboral, investimento público, controlo público dos sectores estratégicos – são opções que o PS faz que limitam e impedem a resposta aos problemas do país, clarificam posicionamento sobre essas questões.”

Mas, como no namoro, cada um deve ficar com as suas responsabilidades pelo que não corre bem. A única diferença pode ser a aplicação do ditado popular sobre maridos, mulheres e quem deve ou não meter a colherada na relação. “Cada um assume as responsabilidades que entende que deve assumir, cada um faz as opções que entende que deve fazer e são sobretudo os portugueses que têm de fazer uma apreciação do posicionamento que cada assume e da perspectiva que cada um tem para o país.” E, dentro de um ano, nas legislativas, serão os portugueses a avaliar a relação.

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