TAP já recuperou mais de 60 milhões que estavam retidos em Angola

Transportadora aérea conseguiu transferir mais de metade do valor que estava acumulado em Luanda por falta de divisas.

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Receitas da transportadora aérea subiram para Já ao nível das vendas estas subiram 1530 milhões de euros no semestre Paulo Pimenta

A TAP já conseguiu transferir de Luanda para Lisboa um pouco mais de metade dos 120 milhões de euros que estavam retidos em Luanda no final do ano passado, por falta de divisas. Segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, o processo foi conduzido ao longo de vários meses, mas não foi possível apurar o valor exacto que já chegou a Portugal. Contactada, fonte oficial não quis comentar.

Este é um fôlego importante para a empresa liderada por Antonoaldo Neves, em termos de tesouraria, que ganha assim acesso livre a mais de 60 milhões de euros. Conforme já escreveu o PÚBLICO, no final do ano passado, e por incapacidade de retirar o dinheiro de Angola, a TAP tinha 80,8 milhões de euros aplicados em dívida de curto prazo do Estado angolano - o dobro do valor registado no final de 2016.

Com esta estratégia, a empresa protegia o dinheiro retido no país por dificuldades na obtenção de divisas para a expatriação do capital (devido à crise que este país atravessa pela baixa do preço do petróleo), já que as operações de compra de obrigações estão indexadas ao dólar (e não ao kwanza, que tem desvalorizado).

Depois, as dificuldades no repatriamento de fundos conduziram também a que estivesse depositado o equivalente a 41,6 milhões de euros (mais cerca de seis milhões face a 2016, divididos em kwanzas, dólares e euros), o que elevava o total para 122,4 milhões de euros. Grande parte do valor remetido para Lisboa terá vindo dos depósitos, já que as obrigações têm um calendário próprio e é preciso esperar que cheguem à maturidade para então se tentar o repatriamento do dinheiro. Assim, a retirada de dinheiro por parte da transportadora aérea é um processo que ainda está a decorrer.

A entrada destes mais de 60 milhões de euros aconteceu nos meses anteriores à visita oficial a Luanda do primeiro-ministro, António Costa, que serviu como símbolo do desbloqueio das relações entre os dois Estados.

Na visita, que decorreu nos dias 17 e 18 de Setembro, foi assinado um acordo sobre transporte aéreo que tinha sido negociado em 2010 mas que tinha ficado por oficializar desde então, e que “estabelece as bases jurídicas para a exploração de rotas aéreas entre Portugal e Luanda, conferindo o devido enquadramento a estas rotas de particular relevância comercial e às companhias que nela operam”. Para já, não há indicações de que a TAP vai avançar para além do voo diário que já faz para a capital angolana.

Com as suas operações a crescer, a TAP está a investir em novos aviões e contratações. Ao mesmo tempo, tem também uma dívida elevada para pagar. Há um ano, um dos seus accionistas privados, David Neeleman, afirmou que a dívida de 600 milhões de euros da empresa à banca iria começar a ser abatida em Novembro deste ano, com o pagamento de 10 milhões de euros mensais. O PÚBLICO tentou confirmar se este calendário se mantinha, mas também não foi possível obter uma resposta.

Prejuízo de 90 milhões

Na sexta-feira ao final do dia, a TAP divulgou os seus resultados semestrais, dando conta de um resultado negativo de 90 milhões de euros, um valor bastante acima dos 54 milhões registados em idêntico período de 2017. De acordo com o comunicado enviado, houve gastos não recorrentes da ordem dos 40 milhões, e que, sem isso, o prejuízo teria sido de 58 milhões de euros (o que compara com um prejuízo de 67 milhões de euros em igual período de 2017, já que houve ganhos não recorrentes nesse período).

O valor dos gastos não recorrentes registados este ano, explicou ao PÚBLICO a empresa, advém "sobretudo" de "irregularidades operacionais", ou seja, de "atrasos e cancelamentos", mas “também da reestruturação da EM Brasil”, a empresa de manutenção que o grupo detém neste país e que foi redimensionada (incluíndo o despedimento de cerca de mil pessoas). O primeiro semestre, diz a empresa liderada por Antonoaldo Neves, também teve outros impactos negativos, e mostrou-se “desafiador em função do forte aumento do preço dos combustíveis (+36%) [devido à subida do petróleo], pela volatilidade nas moedas dos principais mercados da TAP", além de "irregularidades operacionais”.

Já ao nível das vendas estas subiram 18%, atingindo os 1529,6 milhões de euros, com a transportadora a destacar “os mercados português, brasileiro e norte-americano que, no conjunto, cresceram aproximadamente 15% e representaram 56% do total”.

Olhando para a segunda metade do ano, “tradicionalmente mais forte”, a TAP antevê “uma contribuição fundamental para o resultado anual”.

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