Presidente da TAP "sobrevive" a audição na Madeira

Presidente da Comissão Executiva da TAP foi ouvido no parlamento madeirense sobre as políticas da companhia para com a região autónoma.

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LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

Depois de a meio de Setembro, na Assembleia da República, ter dito aos deputados que a TAP não tinha obrigações de serviço público para com a Madeira. Depois de, uns dias antes, numa entrevista, ter definido como “módicos” os preços das tarifas para o Funchal, o presidente da Comissão Executiva (CEO) da TAP, Antonoaldo Neves transformou-se numa espécie de persona non grata na região autónoma.

No parlamento regional, a Comissão Eventual de Inquérito à Política de Gestão da TAP em relação à Madeira, tratou logo de pedir uma audição ao CEO da TAP, que esta terça-feira, durante uma sessão longa e bastante tensa, repetiu tudo o que tinha dito em São Bento.

“A TAP não é uma empresa pública. A TAP é uma empresa privada, e vocês precisam entender isso”, respondeu Antonoaldo Neves aos deputados, para, mais à frente, voltar a repetir: “A TAP não tem obrigação de serviço público. Existe um regulamento europeu e a Madeira não está inserida”.

E de nada valeu a Carlos Rodrigues, do PSD, apontar no caderno de encargos da venda da companhia as referências a obrigações de serviço público da TAP para com a Madeira e os Açores. Antonoaldo Neves foi peremptório: A decisão de ser ou não uma linha de serviço público é política, não é da TAP.

O diálogo entre os deputados do PSD, a que se juntou depois o CDS, e o CEO da companhia marcaram a audição, que se prolongou durante toda a tarde. Por duas vezes, os jornalistas tiveram que abandonar a sala por imposição de Antonoaldo Neves, que considerou que estava em causa informação confidencial da empresa. Por várias vezes, o presidente da comissão executiva da companhia insurgiu-se contra o que considerou serem notícias “mentirosas” e considerações “gravíssimas e distorcidas” que prejudicam a TAP.

As tarifas, que o presidente do governo madeirense, Miguel Albuquerque, diz serem “pornográficas”, são sim “módicas”. Logo no início da audição, Antonoaldo Neves simulou no telemóvel viagens Funchal-Lisboa-Funchal para Dezembro, para comprovar que os valores não ultrapassavam os 100 euros. O presidente da comissão, o social-democrata José Prada, mostrou outra simulação, com outros valores (mais de 600 euros) e ironizou: “A partir de agora, vou pedir o seu telemóvel sempre que quiser marcar uma passagem”.

Antonoaldo Neves sorriu, mas continuou. Agora falando para Albuquerque. “Quem define as tarifas não é o presidente da TAP. A empresa tem colaboradores altamente qualificados para isso, e não tem nenhum trabalhador a fazer pornografia”, disse, recusando qualquer tipo de discriminação para com a região autónoma.

Foram, exemplificou, disponibilizados mais 211 mil lugares para a Madeira, depois de a companhia ter sido privatizada. “Então, porque não baixam os preços?”, quis saber Lino Abreu, deputado do CDS. Por causa da inflação, da falta de slots em Lisboa, do preço do petróleo (a TAP vai gastar mais 100 milhões de euros este ano em combustível), argumentou o CEO da companhia.

O deputado centrista, juntou depois a voz à bancada do PSD, levando a discussão para o campo político. O Governo quando reverteu a privatização da TAP, usou a garantia do serviço público para justificar a operação. “Se não está, fomos enganados.”

Antonoaldo Neves recusou comentar decisões políticas. Pediu desculpa pelos cancelamentos ocorridos no primeiro semestre deste ano, e mostrou-se disponível para ir ao encontro de uma das exigências da Madeira, que pretende que os passageiros residentes e estudantes paguem apenas o valor do subsídio de mobilidade, 86 euros e 65 euros respectivamente, em vez de terem de adiantar a totalidade do preço da passagem e aguardar 60 dias pelo reembolso.

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