Esqueça a estrada: no futuro os carros chegarão pelos ares

Alguns parecem saídos de um filme de ficção científica, outros assemelham-se a um híbrido entre um carro e uma avioneta. Já há um protótipo norte-americano com mais de 200 horas de voo e em Portugal já se dão os primeiros passos na área.

Foto

É uma imagem conhecida que habita no imaginário de muitos os que nasceram e cresceram depois de 1962: a família Jetson começa a manhã num carro voador verde, parecido a um mini-helicóptero sem hélices, e desloca-se entre vários pontos de Orbit City, a cidade ficcionada da série dos anos 1960.

Em 1925, Henri Ford já tinha tentado criar um carro voador, o Ford Flivver, o "modelo T dos ares", mas o projecto chegou ao fim em 1936 devido a um acidente aparatoso. Nessa altura, os carros voadores eram apenas um sonho reservado aos mais audazes. Quando os Jetsons foram criados, nos anos 60, eram uma visão futurista.

Foto
O Ford Flivver DR

Actualmente os carros voadores, carros-drone ou drones de passageiros estão cada vez mais perto de se tornarem reais e comuns: já há um protótipo norte-americano com mais de 200 horas de voo e em Portugal já se dão os primeiros passos na área.

Depois do UberX e do Uber Green… a Uber Air

“Carregar num botão e conseguir um voo”: são estes os planos da direcção da Uber, apresentados na conferência Uber Elevate, dedicada ao tema do transporte aéreo, que já se realiza desde 2017. A última foi em Maio.

“Pode parecer algo que existe apenas em fantasias de ficção científica, mas queremos torná-lo real”, disse o responsável de aviação da Uber, Eric Allison, à CNet, site especializado em tecnologia. “Estes veículos já passaram da fase de investigação e chegaram a um ponto em que podem ser usados comercialmente”, sentencia.

A tecnologia usada nos modelos de referência usados pela Uber chama-se eVTOL, diminutivo de Descolagem e Aterragem Verticais Eléctricas (ou electric vertical take-off and landing no original). O protótipo da Uber tem quatro propulsores que permitem a descolagem vertical e um rotor que permite que se movimente para a frente – o que faz com que se assemelhe mais a um helicóptero do que a um carro voador.

Pelo menos, é o que parece no desenho apresentado durante a Uber Elevate, onde se apresentaram as novidades tecnológicas da empresa. De acordo com Eric Allison, a discussão sobre o termo certo para designar este veículo ainda não está encerrada: “‘Carro voador’ é o equivalente a ‘carruagem sem cavalos’”, disse ao CNet. “Não sabemos qual é o termo certo, mas provavelmente não são carros voadores. Chamámos-lhes eVTOL o que também é terrível”.

A velocidade de cruzeiro deste veículo situar-se-á entre 240 e 320 quilómetros por hora e irá alcançar uma altitude entre 300 e 600 metros. O custo da viagem situar-se-ia nos seis dólares (cinco euros) por milha (1,6 quilómetros) viajada. A título de exemplo, um percurso de Lisboa ao Porto, que distam aproximadamente 300 quilómetros ou 186 milhas, ficaria a mais de 900 euros.

Os primeiros voos de teste deste protótipo estão marcados para 2020.

Em Outubro, os norte-americanos já vão poder comprar carros voadores

O primeiro voo de um carro voador criado pela empresa norte-americana Terrafugia aconteceu em 2009. Na altura, a direcção da Terrafugia previu que os primeiros veículos iam chegar ao mercado em 2011, mas isso acabou por não acontecer – o que obrigou a empresa a devolver o dinheiro a quem fez a pré-compra por não ter conseguido cumprir com o prazo estipulado.

Agora, com um novo dono e um novo protótipo, tentam outra vez. O Transition, o mais recente protótipo, vai estar em pré-venda já em Outubro e, pelas previsões da empresa, vai começar a ser comercializado em 2019. O protótipo já soma mais de 200 horas de voos de teste. Quando chegar ao mercado, os consumidores vão seguramente pagar mais de 300 mil dólares (mais de 255 mil euros), embora o número final ainda não seja conhecido, por um veículo com motor híbrido, três câmaras traseiras e espaço extra na bagageira. 

Foto
REUTERS/Eloisa Lopez

Danielle Kershner, porta-voz da empresa, explicou ao jornal norte-americano The Boston Globe que a empresa enfrentou várias questões regulatórias relacionadas com as regras de segurança federais para aviões e carros. Tudo isso atrasou a sua comercialização.

Este dançarino de hip-hop criou o seu próprio carro-drone

Chama-se Flyingkyxz e é o sonho tornado realidade de Kynz Mendiola, um dançarino de hip-hop filipino que o criou do zero. Recentemente, o  Flyingkyxz completou o seu primeiro voo de teste com sucesso.

Mendiola gastou a maior parte das suas poupanças a construir este veículo e diz que, assim que a invenção estiver concluída, vai tentar encontrar patrocinadores que financiem a sua produção comercial.

O carro voador português

De todos é o que mais se assemelha a um carro, mas continua parecido a um drone gigante. É uma criação do Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (CEiiA), em Matosinhos, e é o primeiro carro-drone português. Chama-se Flow.me e o lançamento está previsto para 2022. 

Foto
CEiiA

É um carro eléctrico e autónomo, constituído por três módulos: um sistema terrestre, um habitáculo e um sistema aéreo. O sistema terrestre – semelhante a um carro – terá autonomia até 200 quilómetros. A parte aérea será um drone, com propulsão semelhante à de um helicóptero e uma autonomia de voo de três a seis horas.

O objectivo é que o habitáculo se consiga libertar do sistema terrestre num local e ir aterrar noutro local, onde terá de estar disponível um outro sistema terrestre.

A experiência militar israelita

Até 2020, uma empresa de tecnologia israelita, Urban Aeronautics, espera conseguir colocar no mercado um drone de passageiros – que é como quem diz um carro voador.

O Cormorant, modelo desta empresa, pesa uma tonelada, pode transportar 500 quilos e viajar a 185 quilómetros por hora e, quando chegar ao mercado, o preço deve rondar os 14 milhões de dólares (cerca de 13,4 milhões de euros).

Por enquanto, as suas utilizações mais óbvias passam por fornecer ajuda em ambientes de guerra. Os especialistas da Urban Aeronautics acreditam que o drone verde-escuro, que usa rotores internos em vez de hélices de helicóptero, poderia retirar pessoas de ambientes hostis ou permitir acesso seguro a forças militares.

"Basta imaginar uma bomba numa cidade... e este veículo pode entrar, pilotado de forma remota numa rua, e descontaminar uma área", disse o fundador e presidente da Urban Aeronautics, Rafi Yoeli, à Reuters.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários