Os meus doze anos
Eu odiava os meus twelve anos, ardia com a injustiça de não serem twelveteen
O meu neto Vicente fez cinco anos. Passou os quatro anos a queixar-se de não ter cinco e agora diz que a coisa anda mais depressa: cinco, dez, quinze — num ápice já terá os vinte anos que quer ter e será finalmente crescido.
Esta impaciência e este desejo louco de envelhecer despertaram em mim a memória dos meus doze anos. Um teenager naquela altura era uma pessoa cuja idade acabasse em teen. Começava-se aos treze anos e acabava-se em glória com dezanove.
Eu odiava os meus twelve anos, ardia com a injustiça de não serem twelveteen como já no ano anterior me senti roubado por não poder ter eleventeen. Pelas minhas contas era-se criança até aos nove e depois entrava-se numa idade neutra - os dez - em que se contemplava de um lado a infância inocente e do outro a adolescência rebelde, com todas os seus perigos e problemas, praticamente adultos.
Nas capas dos paperbacks e dos discos, nas reportagens nervosas das revistas, só se viam teenagers insolentes, ameaçadores, blasés e elegantes, com blusões de cabedal a condizer com as atitudes.
Era um sofrimento ter doze anos e não me poder candidatar àquele mundo que era tão obviamente feito para mim. E só porque os nomeadores dos números tinham guardado o teen para os matulões de treze anos.
Não me lembro de ter treze anos mas lembro-me da desilusão que foi. É uma idade horrível. Não acontece nada do que se quer. Ninguém nos respeita. Ninguém nos admira. Ninguém nos convida para uma vida de depravação e de crime. Ninguém se apaixona por nós.