Socorro, este ano são os peões!

Até junho verificou-se um brutal aumento de mortes entre os peões, o coletivo de utilizadores das nossas ruas e estradas mais vulnerável.

Afinal, já não vai ser precisa tanta preocupação com a sinistralidade com as “motos”! Provavelmente já nem se coloca a necessidade de avançar com as medidas preconizadas pelo ministro da Administração Interna (MAI) no início do ano, e ainda não concretizadas, como são a obrigatoriedade de posse de carta de condução específica para veículos com menos de 125cc e as inspeções nas motos com mais de 250cc. Até junho, mesmo “descontando” a possível menor utilização dos veículos de duas rodas com motor devido às chuvas intensas em alguns meses, a diminuição de vítimas entre estes utilizadores foi relevante (ver tabela).

Entretanto, neste período, verificou-se um brutal aumento de mortes entre os peões (+51,5%), o coletivo de utilizadores das nossas ruas e estradas mais vulnerável. Houve menos peões feridos do que em 2017, mas os feridos graves, que têm um grande peso nas vítimas que vêm a falecer nos 30 dias posteriores ao acidente, diminuíram a um ritmo inferior ao verificado globalmente. E também não avançou a introdução das “zonas 30” anunciada pelo MAI...

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Estes números, e estas circunstâncias, mesmo que apresentados de uma forma ligeira, demonstram que o problema da sinistralidade rodoviária não pode ser encarado como a soma de um conjunto de soluções parcelares, onde se procuram criar prioridades em função do curto ou, mesmo, do muito curto prazo. Num ano, num semestre, a prioridade é uma, noutro período de tempo é outra e, assim, nem se conseguem obter resultados para cada um desses problemas setoriais, nem se combate de forma eficiente o problema como um todo. As evidências desta realidade estão à vista, basta querer lê-las.

Soluções?

A sinistralidade rodoviária é uma matéria altamente complexa pela sua multidisciplinariedade e pela sua relação estrutural com a “natureza humana”, sabendo-se que mais de 90% dos sinistros têm origem no fator humano. Para se alcançarem os objetivos do Sistema Seguro que Portugal adotou, materializados em resultados significativos e sustentados na diminuição da sinistralidade, é necessário percorrer, na minha opinião, “uma via com duas faixas”:

1. Medidas para se obterem efeitos de curto prazo, sem estarem dependentes de um qualquer grupo ou fator de risco, claramente disruptivas e que precisam de ser “aplicadas com grande resolução”, como escreveu, no seu tempo, o Pe. António Vieira;

2. Programas de fundo como o PENSE 2020, estruturantes, que visam a alteração das atitudes e dos comportamentos de todos os utilizadores da via pública, exigindo persistência no esforço e perseverança na adversidade, e que, sobretudo, tenham em conta que a “inteligência sem ambição é como um pássaro sem asas” (Salvador Dali).

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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