Sete e sete são 14 e mais Sete são… André M. Santos e a sua guitarra

Primeiro disco a solo do guitarrista dos Melech Mechaya chega esta sexta-feira às lojas. E com a guitarra de André M. Santos também há vozes: Teresa Salgueiro, Ricardo Ribeiro, Carla Pires, Nuno Guerreiro, Ana Laíns, Yami e Liana.

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André M. Santos na sessão fotográfica para o disco HUGO MACEDO
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André M. Santos na sessão fotográfica para o disco HUGO MACEDO
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A capa do disco DR

Guitarrista do grupo Melech Mechaya e membro do Quarteto de Guitarras de Lisboa, André M. Santos estreia-se a solo num disco onde mostra as suas faceta de compositor e também de “parceiro” de outros instrumentos e vozes. Sete, assim se chama o disco que esta sexta-feira chega às lojas, tem por convidados Kabeção (que toca handpans), Teresa Salgueiro, Ricardo Ribeiro, Carla Pires, Nuno Guerreiro, Ana Laíns, Yami e Liana.

O “M” do seu nome artístico corresponde a Miguel, André Miguel Santos, e usa-o para se diferenciar de outro guitarrista português, também chamado André Santos. Nascido em Lisboa, em 17 de Novembro de 1984, André começou cedo na música. Teve aulas de piano, aos 5 anos, mas desistiu. “Puseram-me logo a aprender teoria e solfejo e os miúdos não querem saber disso para nada.” Depois veio a guitarra, também por via familiar, por volta dos 8 ou 9 anos. “O meu irmão [três anos mais velho] tinha aulas de guitarra e depois ensinava-me o que aprendia, foi assim que eu comecei.” E já não parou. Foi para a escola onde o irmão tinha aulas e daí para o Conservatório, aos 14 anos. “Tive uma evolução rápida e sem muito esforço, a música era-me relativamente natural.”

Bandas de garagem? Também as teve. Lembra-se de uma, Os Ananases. “Era uma banda de funk. Tive muitas bandas de garagem, mas esta foi a que durou mais de seis meses! Tocava originais, pouquíssimos, em festas como a da Charneca da Caparica.” Foi fazendo bandas de garagem até concluir que aquilo não dava. “Comecei a entrar mais na música clássica, formei o meu primeiro projecto a solo, o André Santos e Quinteto e fiz alguns concertos com isso, tinha baile de flamenco também.” Por um motivo: quando ele foi para o Conservatório foi a pensar que ia aprender guitarra flamenca. “Pensava que isso é que era guitarra, ponto.” Depois percebeu que o Conservatório não tinha nada a ver com isso, procurou alguém que lhe desse aulas de flamenco (teve-as com Pedro Jóia, que entretanto conheceu) e acabou por fazer Erasmus em Sevilha, sempre atrás do flamenco.

Da clássica aos Melech

No Conservatório, duas coisas essenciais: as aulas com Eurico Carrapatoso deram-lhe a possibilidade de se “sentir mais como guitarrista clássico”, ao estudar composição; e teve, numa cadeira de música de câmara, o primeiro vislumbre dos Melech Mechaya: “O meu professor, que era violinista, tinha entre as partituras dele (Händel, Mozart, etc.) um livro de música tradicional klezmer, que tinha comprado numa feira. Roubei-lhe literalmente o livro, para tirar fotocópias, e na semana a seguir devolvi-lho. Combinei com o João [que também ali tinha aulas, e que viria a ser o violinista dos Melech], fui chamando a malta e fomos ensaiar, sem termos a mínima noção de klezmer nem de nada. Depois demos um primeiro concerto que foi a loucura e dissemos: ‘vamos fazer qualquer coisa’.” E fizeram.

A entrada de André no Quarteto de Guitarras de Lisboa deu-se num período em que os Melech Mechaya “já estavam bem cimentados”: “Eu tinha estado a tocar com a Teresa Salgueiro [já a solo, no período pós-Madredeus], em substituição do Pedro Jóia. Depois saí porque não conseguia acumular esse trabalho com o dos Melech, fui substituído pelo outro André Santos (daí a confusão entre nós: ‘Qual André? O que tocou com a Teresa?’ Ora tocámos os dois!), e comecei a sentir necessidade de qualquer coisa que puxasse mais pela técnica.” Ele já conhecia o Quarteto de Guitarras de Lisboa, tinham sido todos seus colegas no Superior, mas não ouvia falar deles “há muito tempo”: “Eles começaram em 2006 e isto passa-se em 2011. Fui ter com eles, e soube que um tinha saído. Aí veio o convite, juntei-me a eles e voltámos a tocar em Janeiro de 2012. Foi aí que entrei.”

Pedro Jóia e Victorino d’Almeida

Até chegar a Sete, o seu primeiro disco em nome próprio, André M. Santos gravou outros discos dele, “mas com outras pessoas”: “Tenho um disco já muito antigo, de 2006, André Santos e Quinteto; tenho um que se chama Mano Quarteto, só com música minha, jazz e flamenco, mas nunca tinha tido coragem de meter o meu nome à frente, por capricho.” Até que a Câmara de Almada o convidou, em 2016, para um concerto a solo. “Foi em Fevereiro, e convidei o Pedro Jóia para tocar comigo. Foi convidado-surpresa, entrou no final, e fizemos um tema os dois, que está no Youtube, para os mais curiosos.” Foi Pedro quem lhe disse que devia fazer “qualquer coisa a solo”. E foi aí ele se decidiu.

O disco divide-se em duas partes, ambas com sete temas (já lá vamos ao sete). A primeira é estritamente instrumental e absolutamente a solo, só guitarra clássica. Começa com Canção de Alcipe (de Afonso Correia Leite) junta com a Melodia n.º 2 de Carlos Paredes, segue com Balada da oliveira (de Pedro Caldeira Cabral), dois temas de André M. Santos (Ponta de São Lourenço e A ponte dos lamentos) com uma composição de António Victorino d’Almeida pelo meio (Fantasia Op. 70). Por fim, tem um tema de Baden Powell e Vinicius de Moraes (Valsa sem nome) a anteceder uma segunda “mistura”, desta vez La partida, do venezuelano Carlos Bonnet, ligada a Vejam bem, de José Afonso.

“Guitarristas há muitos”, diz André M. Santos. “E no mundo da guitarra clássica há muita gente a tocar mesmo muito bem. Como diferenciar? Pelo repertório. Os guitarristas que oiço têm todos repertório próprio: Pedro Jóia, Yamandú Costa, agora ando a ‘devorar’ completamente um que ganhou um concurso muito conhecido de música clássica mas só faz repertório dele, o Johannes Moller. E quis começar aqui esse mesmo caminho.” A composição de Victorino d’Almeida deve-se a uma admiração pelo autor e pela música: “Queria ter uma música mais erudita e esta é uma peça que quase ninguém toca. E eu gosto tanto do António Victorino d’Almeida, que pensei: vou gravá-la. A introdução é minha, improviso um bocado, se só depois é que entro na música que ele compôs.”

Venham mais sete, agora

André escolheu Sete para título do disco devido a uma fixação antiga nesse número: “O número 7 é muito forte na numerologia. E eu nasci no dia 17, dizem que a minha casa astrológica é o número 7, e quando comecei a estudar composição mais a sério vi que nos antepassados o número 7 é muito forte: as igrejas têm 7 abadias, 7 são os chakras, ou as cores do arco-íris… Tem a ver com a perfeição, é um número primo e eu sempre gostei dos números primos. Não gosto de fazer discos sem conceito e este foi o que encontrei para este disco, o Sete. E não foi pensado, mas a editora do disco é a Seven Muses!”

Sete são também os convidados na segunda parte do disco. O primeiro é um músico seu amigo, Kabeção, que toca handpans numa composição feita de parceria entre os dois, Pegadas verdes sobre um solo antigo. Os restantes são cantores: Ricardo Ribeiro (em Valsinha, de Chico Buarque e Vinicius de Moraes), Teresa Salgueiro (no fado Rasga o passado, de Alain Oulman e Álvaro Duarte Simões), Carla Pires (em Canción de las simples cosas, de César Isella e Armando Tejada Gómez), Nuno Guerreiro (em Over the rainbow, de Harold Arlen e E.Y. Harbourg), Ana Laíns e Yami, que também toca baixo acústico (em Não se chama, de André M. Santos, Paulo Cavaco e António Rodrigues) e, por fim, Liana (em No meio da brasa, de André M. Santos e António Rodrigues). Há, além destes, outros músicos convidados: Carlos Lopes (cavaquinho), Carlos Mil-Homens (percussões) e um quarteto de cordas, com Otto Pereira (violino), António Barbosa (violino), João Carlos Barata (viola) e Filipa Gonçalves (violoncelo). São seis, mas se contarmos com Yami, cantor que se desdobra no baixo acústico, serão mesmo sete.

“Parti da ideia de fazer um disco a solo. Mas quando comecei a trabalhar o conceito, achei que era interessante ter convidados, até para mostrar a guitarra numa visão que poucas vezes se tem. Normalmente a guitarra está a fazer acordes lá atrás, e eu com os convidados sou mais um solista: é a voz e a guitarra. E as vozes foram surgindo. E fui sentindo a música que cada pessoa podia cantar.” Daí vieram os convites.

Em Outubro, com Amélia Muge

Concertos, na sequência do lançamento disco, haverá vários. “Primeiro vou tocar à Igreja da Sé no dia 14 de Outubro, completamente a solo. Mas mais interessante vai ser no dia 28 de Outubro, porque tive um convite da Câmara Municipal de Almada para fazer o concerto de encerramento do Mês da Música. Então vou fazer o concerto a solo e com um convidado que não tem nada a ver com o disco, que é a Amélia Muge. Porque também gosto muito da Amélia e quando comecei a pensar ‘quem é que eu convido?’ veio-me à memória o nome dela.” Já se conheciam, porque participam ambos no júri do concurso Cantar Abril, precisamente em Almada. “O concerto vai ser no Auditório Municipal Fernando Lopes-Graça, com entrada livre, às 17h, e com quarteto de cordas, o mesmo que participou no disco. Vamos fazer quatro músicas da Amélia, uma música minha e uma do Zeca Afonso, a Balada do Outono. A Amélia fez a selecção das músicas dela, de toda a carreira (tem músicas do primeiro álbum até ao último), passou-me os temas e agora estou a adaptá-los para quarteto de cordas. E está a ser espectacular.”

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