Hierarquia da GNR pode ter dado luz verde a encobrimento em Tancos

Comando Geral da Guarda desmente qualquer envolvimento. Documentos comprometedores encontrados nas buscas à casa de director da Polícia Judiciária Militar.

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Enric Vives-Rubio

Os militares da GNR de Loulé implicados no encobrimento do autor do furto de material militar ocorrido no Verão de 2017 em Tancos podem ter tido luz verde da sua hierarquia para recuperarem as armas sem deterem o suspeito.

Esta é, pelo menos, a convicção dos investigadores, que nesta terça-feira detiveram não só três GNR em Loulé como três membros da Polícia Judiciária Militar – incluindo o seu director – e ainda o civil suspeito de ter furtado o material, um traficante de armas e de droga de 36 anos (o PÚBLICO noticiou erradamente na edição de ontem que teria 45).

Mas se no caso do director da Polícia Judiciária Militar, o coronel Luís Augusto Vieira, parecem existir indícios suficientes de ter estado implicado na operação alegadamente fictícia de recuperação do material militar na Chamusca - graças a documentos encontrados nas buscas efectuadas à sua casa pelas autoridades -, o mesmo poderá não suceder em relação às chefias dos militares da GNR de Loulé, apesar de existir a convicção de que o sargento e os dois soldados não agiram por sua conta e risco.

Na tese do Ministério Público, que está a ser coadjuvado na investigação pela Unidade Central de Combate ao Terrorismo da Polícia Judiciária, o traficante que furtou as armas ter-se-á assustado com as repercussões da sua proeza e recorreu a um ex-colega das Forças Armadas, um dos guardas de Loulé, para devolver o material sem arranjar problemas. Como o superior hierárquico desse guarda conhecia um inspector da Polícia Judiciária do Porto, o plano terá acabado por ir por diante com sucesso. Objectivo: tanto a GNR como a Judiciária Militar ficavam com os louros da apreensão das armas. Cerca de três meses depois do roubo, o piquete da Judiciária Militar recebia uma chamada anónima a dizer que o material se encontrava na Chamusca.

Por sinal, havia nesse momento uma equipa conjunta da GNR e desta polícia militar noutra suposta operação no Parque das Nações, em Lisboa, que foi mobilizada para o local e encontrou as granadas, os explosivos e restante material, até ali escondido debaixo de terra, num terreno que pertencia ao traficante.

A rivalidade entre a Polícia Judiciária civil, encarregue pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal de liderar a investigação ao desaparecimento das armas, e a sua congénere militar, com um protagonismo reduzido neste inquérito, ajuda a explicar o sucedido. Os militares reivindicavam a condução da investigação por no seu entender estarem em causa crimes de caserna, e não delitos comuns.

O comando geral da GNR desmente categoricamente ter estado envolvido nestes factos. Diz que "nunca encobriria nenhum tipo de actividade criminosa nem determinaria aos seus militares que o fizessem". E acrescenta ainda, através de um porta-voz, que não interfere nas linhas da investigação. Os arguidos deverão ser ouvidos nesta sexta-feira por um juiz de instrução criminal no Campus da Justiça, em Lisboa.

O director da Polícia Judiciária Militar está a ser defendido por um ex-juiz militar, o coronel Rui Baleizão. Pertence ao Exército, é mestre em Guerra de Informação e até Janeiro deste ano coordenava o gabinete de inspecção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

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