Ex-directora da Casa dos Rapazes acusada de maus tratos nega intenção de "magoar"

A antiga directora da instituição disse que "num primeiro momento é preciso mostrar" que aquela instituição "é uma casa com regras, limites e rotinas que têm de ser cumpridas" e admitiu ser "muito exigente com os miúdos" e não ser "muito meiga a falar".

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ADRIANO MIRANDA

A ex-directora técnica da Casa dos Rapazes, em Viana do Castelo, arguida num processo de maus tratos explicou esta quarta-feira, em tribunal, as acções que tomou para disciplinar os jovens da instituição, "nunca com a intenção de os magoar".

"Às vezes é necessário repreendê-los, segurá-los, exercer alguma retenção, mas nunca com a intenção de os magoar (...). São jovens agressivos, desafiantes, questionam e opõem-se às regras todas", afirmou a antiga directora de 43 anos ao colectivo de juízes que começou a julgar o caso.

Durante a manhã foram ouvidos outros quatro funcionários, com idades entre os 30 e os 36 anos, também arguidos no processo e que negaram a prática dos crimes de que estão acusados pelo Ministério Público (MP).

Os cinco arguidos, quatro funcionários e a directora técnica daquela instituição, estão acusados de 35 crimes de maus tratos, ocorridos entre 2015 e 2017, e denunciados por duas educadoras da instituição acolhe 46 crianças e jovens em situação de risco.

A ex-directora da instituição disse que "num primeiro momento é preciso mostrar" que aquela instituição "é uma casa com regras, limites e rotinas que têm de ser cumpridas", admitindo ser "muito exigente com os miúdos" e não ser "muito meiga a falar".

Defendeu que "há limites" e negou ter dirigido palavrões de insultos aos menores. "Não me identifico muito com essa linguagem", sustentou a arguida que desempenhou o cargo de directora durante uma década.

A arguida, que deixou a instituição em Abril de 2018, na sequência deste caso, referiu que este processo "é penoso e injusto". Também acusou as pessoas que fizeram as denúncias de serem "meras espectadoras das situações". "Não serviam os miúdos, serviram-se da instituição. Não posso ser mera espectadora de faltas de educação", destacou.

Questionada pelo juiz sobre se os menores que denunciaram os alegados maus tratos terão sido instrumentalizados, respondeu: "Não. Alguns tiraram partido desta situação".

Afirmou que desde a sua saída da instituição "os casos de desobediência e as idas da PSP à casa aumentaram".

"As pessoas que lá estão são mais permissivas e outras são obrigadas a ser mais permissivas, com medo de serem acusadas".

Realçou que "a instituição tem sido muito penalizada por parte da Segurança Social" e que a direcção "foi obrigada a rescindir contratos de trabalho com pessoas que têm valor".

A próxima sessão está marcada para dia 15 de Outubro às 9h30. Serão ouvidas as cinco primeiras testemunhas do processo.

A investigação do MP envolvia seis arguidos, sendo que as acusações que pendiam sobre um dos funcionários daquela instituição foram arquivadas.

Em Novembro de 2017, a direcção da Casa dos Rapazes aceitou o pedido de afastamento de cinco dos seis funcionários arguidos naquele processo.

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