Cartas ao director

Resposta a Bárbara Reis

Estava no estrangeiro quando li o seu artigo no PÚBLICO digital, apercebendo-me de dois erros na entrevista que motivaram a sua resposta.

O primeiro resulta da posição dos arquitectos perante o que se passa na cidade quanto à expulsão da população, em nome do turismo e da qualidade da renovação urbana. Por outro lado, o seu silêncio ensurdecedor quanto à inexistência de concursos públicos para projectos estruturantes, seja de edifícios ou de espaço público. Como explicação, para além da habitual defesa corporativa da profissão, adiantei a existência de redes de amizades e de relações profissionais. Foi nesse contexto que fiz referência ao Vereador Salgado e à sua influência.

O segundo erro deriva de a ter confundido com uma arquitecta com o seu nome próprio. Lamento este erro e o modo como isso agravou o primeiro (ao juntar a leitura geral com a sua pessoa) e a desagradável situação em que a terei involuntariamente colocado. As minhas desculpas.

Mas que fique clara a minha posição quanto ao edifício do Rato e à sua defesa do mesmo. Conheço e estimo os arquitectos que assinam o projecto, e gosto da sua obra. Os materiais escolhidos e o desenho das fachadas revelam inteligência e qualidade estética. O problema não é esse. As questões pertinentes são: devem os arquitectos (por mais brilhantes que sejam) definir o espaço construído sem ter em conta outros aspectos que não sejam o programa do cliente, as normas urbanísticas, o seu gosto estético e a sua visão da cidade? Penso que não. A cidade deve ser uma construção colectiva, em particular quando se trata de espaço público ou de edifícios que o influenciam decisivamente. Em segundo lugar, o edifício em causa interfere directamente com a percepção da fonte, impede o projecto que permitia um mais qualificado espaço público e ligações mais seguras e cómodas para as pessoas que andam a pé no Largo do Rato ou que aí acedem aos transportes. Face a estes valores, não aceito que, para se obterem mais uns metros quadrados de construção, se ponha em causa a reabilitação urbana deste Largo tão maltratado, em nome de “facilidades” para o automóvel e os autocarros.

A minha crítica ao seu texto tem a ver com o facto de ter omitido estas dimensões do problema e limitar-se a discutir a forma do edifício. Num jornal de referência não me parece aceitável.

Por fim, lamento que aproveite este incidente motivado pelos erros reconhecidos, para tentar pôr em causa a minha credibilidade quanto aos factos que abordei. Confesso que já estava à espera de um ataque deste tipo. Sei com quem me meti e quais as redes que têm permitido a impunidade de que tem gozado a CML. Há sempre uns poucos que ganham quando a maioria da população perde. Mas não esperava que isso viesse do PÚBLICO (com quem sempre mantive uma excelente relação quando fui vereador) e menos ainda a propósito de um caso como o do Rato, o menos importante em relação a tudo o resto que abordei. O verdadeiro objectivo parece assim não ser o de responder a uma incorrecção, mas apontar um dedo acusador para desviar a discussão do que realmente interessa, alem de se tentar “matar o mensageiro”. Os que me conhecem não se iludirão por essa narrativa e sabem que sempre fui verdadeiro, mesmo quando era menos oportuno sê-lo. Isso me basta.

Fernando Nunes da Silva, ex-vereador da Câmara Municipal de Lisboa

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