Secretário de Estado pede cautela aos bancos e ao BdP que avalie eficácia do "travão" à concessão de crédito

Aumento do crédito a particulares "é uma estratégia de curto prazo” que pode, segundo o governante, pôr em causa o trabalho feito para tornar as instituições mais sólidas.

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Enric Vives-Rubio

O secretário de Estado das Finanças pediu esta terça-feira aos bancos para serem cautelosos na concessão de novo crédito, especialmente ao consumo, para não pôr em causa o trabalho feito em tornar as instituições mais sólidas. Ao Banco de Portugal (BdP), Mourinho Félix pediu "vigilância" e avaliação da "eficácia das medidas adoptadas" recentemente.

O alerta é feito numa altura em que o ritmo de crédito concedido às famílias para aquisição de bens e serviços ou de casas tem aumentado de forma acelerada, facilitado por práticas agressivas que podem pôr em risco a solvência das famílias e a solidez dos bancos.

“Sem uma avaliação de risco adequada, o aumento do crédito a particulares é mais uma visão de curto prazo do que uma estratégia de futuro. Pode mesmo representar o desperdício de uma oportunidade para reorientar o negócio bancário, pondo em causa o que foi conseguido pelos bancos e pelos seus accionistas", disse Ricardo Mourinho Félix, na conferência A Banca do Futuro, organizada pelo Jornal de Negócios, em Lisboa.

"O crédito a particulares, em especial o crédito ao consumo, deve ser seguido com muita atenção para evitar que seja impulsionado de forma imprudente, como aconteceu no passado", afirmou, citando dados recentes de novos empréstimos que indicam um aumento expressivo do dinheiro emprestado para compra de carro, o segmento que mais tem crescido.

Mourinho Félix falou da importância da regulação neste contexto, ou seja, do Banco de Portugal (BdP), destacando que depois das novas regras à concessão de crédito é importante seja avaliada a sua eficácia. "O BdP, enquanto autoridade macroprudencial, aprovou medidas que entendeu adequadas para prevenir a acumulação de riscos. É fundamental continuar a acompanhar a evolução dos indicadores do crédito e avaliar a eficácia das medidas adoptadas".

Recorde-se que o BdP, através de uma medida macroprudencial, fez um conjunto de recomendações aos bancos, com o propósito de disciplinar a concessão de novos empréstimos, mas que, tal como o PÚBLICO noticiou recentemente, estão a ser contornadas por algumas instituições.

O governante entende “o elevado nível de crédito malparado é ainda uma marca da crise anterior, por isso é fundamental a vigilância da evolução do crédito da nossa economia”, defendeu.

O Governante deixou ainda um recado aos bancos: “Tão importante como a regulação é uma gestão moderna e inteligente” do negócio bancário. "Acredito que temos em Portugal bons gestores bancários, atentos ao futuro e que vão saber decidir estrategicamente o melhor para as suas instituições, num ambiente competitivo", concluiu. Com Lusa

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