H&M acusada de não pagar salários justos aos trabalhadores das fábricas

Grandes marcas são pressionadas pelas organizações da sociedade civil e pelos consumidores para melhorar as condições de trabalho dos que trabalham em fábricas que fornecem as lojas.

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Jonathan Ernst/Reuters

A gigante da moda H&M não está a conseguir garantir que os trabalhadores das fábricas que abastecem as suas lojas recebam um salário justo, forçando muitos deles a trabalhar horas extraordinárias para conseguirem sobreviver, denunciam organizações da sociedade civil.

Com base em entrevistas a 62 pessoas de seis fábricas de fornecedores da H&M na Bulgária, Turquia, Índia e Camboja, os activistas disseram que nenhum dos trabalhadores ganhava algo que se aproximasse daquilo a que se chama "salário vital", o possível para cobrir as necessidades básicas das suas famílias.

As grandes marcas têm estado sob crescente pressão de activistas e consumidores que exigem que as condições de trabalho ao longo das cadeias globais de fornecimento sejam mais dignas e que os trabalhadores das fábricas de têxteis sejam menos explorados ou até vítimas de escravatura.

A Clean Clothes Campaign (CCC) denuncia que a sueca H&M – a segunda maior cadeia de moda depois da Inditex, proprietária da Zara – não cumpriu um compromisso assumido em 2013 de garantir que os seus fornecedores paguem um salário mínimo para cerca de 850.000 trabalhadores têxteis até 2018.

"A H&M precisa de agir imediatamente para acabar com o escândalo dos salários de pobreza e violações dos direitos dos trabalhadores", declara Bettina Musiolek, do CCC, uma aliança de sindicatos e organziações não governamentais.

No entanto, a H&M – que tem mais de 4800 lojas em 69 países – divulga que atingiu pelo menos 600 fábricas e 930.000 trabalhadores com a sua estratégia salarial justa e que, por isso, não compartilha da visão da CCC. "Não existe um nível universalmente aceite para salários dignos, e os níveis salariais devem ser definidos e estabelecidos pelas partes no mercado de trabalho por meio de negociações justas entre empregadores e representantes dos trabalhadores, não por marcas ocidentais", declara uma porta-voz da H&M.

O relatório do CCC descobriu que os trabalhadores das fábricas de fornecedores da H&M no Camboja recebiam menos da metade do salário mínimo, caindo para cerca de um terço para aqueles que moravam na Índia e na Turquia. Muitos trabalham horas extras, excedendo o limite legal sem serem pagos correctamente, enquanto outros só recebem o salário mínimo se trabalharem horas extras e cumprirem sua cota, que as Nações Unidas definem como trabalho forçado, disse o CCC.

"Em vez de conversas vazias de relações públicas, queremos ver mudanças transparentes nos salários reais dos trabalhadores da cadeia de suprimentos da H&M", reaje Judy Gearhart, directora-executiva do International Labor Rights Forum (ILRF), em comunicado.

O ILRF exortou a H&M a publicar um roteiro com metas de aumento salarial mensuráveis e delimitadas no tempo e descrever como elas mudarão as práticas de compra para garantir que os trabalhadores recebam um salário digno. "No entanto, a questão dos salários é maior do que uma marca, e poucas empresas têm iniciativas para aumentar os salários", explica Peter McAllister, da Ethical Trading Initiative, um grupo de sindicatos, empresas e organizações das quais a H&M é membro. "Se quisermos garantir que todos os trabalhadores de vestuário recebam um salário decente, então a prioridade é estimular acções em toda a indústria", conclui.

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