O imaginário futurista de Pedro Silva reflecte-se nos óculos Vava

Depois de 15 anos em diferentes empresas de vestuário e acessórios, Pedro Silva fundou em 2014 a Vava, uma marca de óculos de luxo. Distingue-se pelo design contemporâneo e minimalista, com o seu quê de ficção científica.

Foto
DR

O nome nada significa, mas diz muito sobre a marca. A simetria da palavra, Vava, remete para a geometria dos óculos, por vezes levada ao extremo. Ao mesmo tempo, a sua simplicidade representa a estética minimalista das peças. E a própria ausência de significado simboliza o posicionamento singular da marca.

Em 2014, Pedro da Silva deixava para trás uma carreira de 15 anos em grandes empresas, como a Inditex e a Hugo Boss, para criar a sua própria marca de óculos. Escolheu uma indústria dominada por gigantes, onde há alguns anos se têm começado a afirmar marcas de nicho, focadas na qualidade e no design. Foi neste segundo segmento que fixou o olhar.

O imaginário da Vava localiza-se num tempo futuro. Detroit e Berlim são dois pontos de referência: cidades que se viram obrigada a reinventarem-se, ao longo do século passado. Pedro Silva é optimista em relação ao futuro e acredita num mundo “sem fronteiras, sem géneros e sem raças”. As personagens que habitam o universo Vava usam óculos contemporâneos e minimalistas, com o seu quê de ficção científica. 

Foto

Hoje a marca está à venda em algumas dezenas ópticas de luxo e concept stores, incluído, a André Ópticas (em Lisboa), Wrong Weather (no Porto) e a THE Design (no Porto, Lisboa e Algarve). Está também disponível online, na Luisa Via Roma e Farfetch. A lista de clientes é notória. Inclui, por exemplo, o músico Will.i.am, a modelo Kendall Jenner e Cristiano Ronaldo. Quanto aos preços, variam entre os 430 e os 600 euros. Em termos de facturação, Pedro da Silva espera que a Vava atinja 500 mil euros este ano.

A marca divide-se actualmente em três colecções: uma mais minimalista (white label); outra mais arrojada (black label) e uma desportiva (red label), lançada este ano e composta por um único modelo, cujas peças podem ser desmontadas e trocadas. Os óculos incluem lentes de cristal Barberini e as armações são feitas de um de três materiais: acetato, alumínio ou nylon.

Foto

Os modelos mais recentes serão lançados em Dezembro e levam a assinatura de Álvaro Siza Vieira, já que o arquitecto português desenhou uma colecção cápsula de seis modelos (três de vista e três de sol). Logo nas primeiras interacções perceberam que falavam “a mesma língua”, conta Pedro da Silva. Assim, apresentou ao conceituado arquitecto as colecções e simplesmente deu-lhe carta-branca para criar. A colaboração culminou com a exposição When Fashion Meets  Architecture, uma série de fotografias junto à igreja de Santa Maria, em Marco de Canaveses – uma das obras mais marcantes de Siza Vieira.

O universo da marca tem-se vindo a construir também a partir das colaborações. Além de Siza Vieira, lançou colecções com o músico Juan Atkins, “o pai da techno”, e com o designer e fotógrafo canadiano Rad Hourani, um dos gurus da moda unissexo. “Os dois integram-se nesta visão, no mundo futurista que nós imaginamos. O Siza entra também”, comenta. “As colaborações para nós têm de fazer sentido. Não fazemos só por fazer. Tem de ser alguém com quem nos identificamos.”

Foto

Público sofisticado

Pedro da Silva chegou a considerar criar uma marca de roupa, mas preferiu algo que fugisse à volatilidade das colecções que se renovam a cada seis meses. Ao mesmo tempo queria algo que não se afastasse demasiado da moda. “Os óculos”, conclui, “são peças que permanecem no tempo”. É Pedro que assume simultaneamente a gestão comercial e a direcção criativa da marca. 

Natural de Viana do Castelo, o empresário estudou engenharia de produção têxtil na Universidade do Minho. Trabalhou em gestão empresarial na empresa de calçado Mephisto e, depois de passar pela Zara Kids, foi convidado a chefiar um novo departamento de sourcing da Inditex, na China. Foi nos anos que passou em Itália, como director de compras na VF Corporation (dona, por exemplo, da Vans e Napapijri), que descobriu “o mundo das ópticas” e ficou a conhecer a indústria de perto – desde os profissionais que nela operam aos tipos de produção.

Num mercado dominado por duas grandes empresas italianas (Luxottica e Safilo), "é quase impossível um novo player entrar", comenta. "Contudo, um nicho paralelo de marcas dirigidas a um público sofisticado que procura algo verdadeiramente exclusivo e de qualidade tem vindo a crescer progressivamente", continua.

Foto

A Vava distingue-se não só pelo design, mas também pelo fabrico (concentrado em Itália), que combina tecnologia avançada – como a máquina que permite fazer os cortes especiais para as dobradiças – e mestria artesanal. “Este know how foi-se progressivamente perdendo quando os óculos passaram a ser maioritariamente produzidos de forma completamente automática e com materiais de menor qualidade para obter baixos custos de produção”, aponta o empresário.

Lembra ainda que inicialmente houve quem interrogasse se os modelos da Vava seriam demasiado conceptuais para as pessoas usarem no dia-a-dia, apontando, por exemplo, para as lentes completamente planas que são usadas. Mas é ao factor de originalidade, bem como a autenticidade, que atribui o crescimento da marca. O logótipo da Vava deriva de um quadrado e aparece subtilmente nas lentes. Pedro da Silva defende que é o design e não o logótipo que deve denunciar a marca – “como quando vemos um Van Gogh”.

Sugerir correcção
Comentar