Uma parada militar da Guarda Revolucionária foi atacada no Irão — o que significou?

Nos últimos anos, o Presidente Hassan Rouhani conseguiu controlar a cada vez maior influência dos Guardas na economia e na política, mas depois do ataque em Ahvaz vai ter mais dificuldade em desafiá-los.

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O ataque matou 25 pessoas no sábado MORTEZA JABERIAN/EPA
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O ataque matou 25 pessoas no sábado,O ataque matou 25 pessoas no sábado BEHRAD GHASEMI/EPA
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Rhouani ABEDIN TAHERKENAREH/EPA
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O ataque sangrento de sábado contra uma parada dos Guardas Revolucionários do Irão constituiu um duro golpe para a segurança do país, que disse muitas vezes ser capaz de anular qualquer ameaça, grande ou pequena, até dos Estados Unidos e do seu grande aliado no Médio Oriente, Israel. O ataque, um dos piores contra os Guardas Revolucionários, mostra que a força de elite que responde directamente ao Líder Supremo Ayatollah Ali Khamenei, pode ser vulnerável a operações de guerrilha.

O Irão tem gozado de uma relativa estabilidade por comparação com vizinhos árabes que têm enfrentado crises políticas e económicas na sequência dos levantamentos populares de 2011. Os Guardas já disseram que vão retaliar com uma vingança "mortífera e inesquecível".

Quem foi o responsável?

O Irão considerou os Estados Unidos e os vizinhos do Golfo Pérsico responsáveis pelo banho de sangue; morreram 25 pessoas (12 Guardas Revolucionários), entre militares e civis que viam a parada que assinalava a guerra entre o Irão e o Iraque (1980-88, eclodiu depois de o Iraque ter invadido o Irão). Porém, não apresentou provas. Um movimento de oposição árabe chamado Resistência Nacional Ahvaz, que luta pela independência do Khuzistão (rica em petróleo), reivindicou a autoria. Também o grupo jihadista Daesh, que também reivindicou o ataque de 2017 contra o Parlamento iraniano e o mausoléu do Ayatollah Ruhollah Khomeini, o fundador da República Islâmica; 18 pessoas morreram. Nenhum dos grupos apresentou provas do seu envolvimento no sábado.

A oposição árabe tem uma longa lista de queixas contra a liderança iraniana e a sua frustração está a subir. A cidade de Ahvaz, onde foi o ataque, é a capital do Khuzistão, região na fronteira com o Iraque onde a maioria dos árabes iranianos vivem. A comunidade há muito que se sente negligenciada pelo governo central de Teerão, dominado pelos persas. A zona tem sido atingida pelos problemas económicos que afectam todo o país e a taxa de desemprego é de 14,5%, acima dos 11,8% nacionais.

As condições de vida precárias têm sido agravadas por falta de electricidade e uma seca severa, com os locais a acusarem o governo central de erros de planeamento. Os habitantes de Ahvaz têm sido obrigados a permanecer nas suas casas devido às tempestades de areia relacionadas com a seca.

Grupos da oposição armada têm tentado capitalizar este descontentamento e ganhar apoio para as suas operações, que incluem ataques a oleodutos na zona. Os activistas dos direitos civis dizem que estes ataques perturbam os seus esforços para ajudar a comunidade e que levam a prisões indiscriminadas.

Os curdos do Irão ocidental e os balúchis no sul, ambos importantes grupos de minorias, também se queixam da negligência do governo central. Nos últimos meses, houve confrontos entre grupos armados curdos e os Guardas Revolucionários na região de fronteira com o Iraque, tendo morrido várias pessoas em ambos os lados. 

No início de Setembro, os Guardas dispararam vários mísseis contra uma base curda no Norte do Iraque, matando pelo menos 11 pessoas.

Como reagiram ao ataque as facções políticas rivais iranianas?

Ataques deste tipo tendem a unir os reformistas e os conservadores da linha mais dura, apesar das suas diferenças quanto às políticas interna e externa. Nos últimos anos, o Presidente Hassan Rouhani conseguiu controlar a cada vez maior influência dos Guardas Revolucionários na economia e na política, mas depois do ataque em Ahvaz vai ter mais dificuldade em desafiá-los.

A violência está a levar a um aumento do apoio aos Guardas, segundo os analistas, apoio esse que vão usar para silenciar os críticos, incluindo Rouhani.

A decisão do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar o seu país do acordo internacional sobre o nuclear com o Irão também deu mais poder à linha dura, que argumenta que não se pode confiar nos EUA.

Como irão reagir os Guardas Revolucionários?

Os principais comandantes disseram que o ataque foi realizado por combatentes treinados pelos Estados do Golfo e Israel e apoiados pelos EUA. Mas é pouco provável que ataquem qualquer destes inimigos directamente. Vão, provavelmente, mostrar a sua força através do lançamento de mísseis contra grupos que operam no Iraque ou na Síria que possam estar relacionados com os que realizaram o atentado.

Depois do ataque de 2017 em Teerão, os Guardas dispararam mísseis contra grupos no leste da Síria. E depois dos confrontos com os curdos, lançaram mísseis contra bases da oposição curda no Norte do Iraque.

Os Guardas deverão também apertar a segurança na província do Khuzistão, prendendo qualquer suspeito de ser um opositor, incluindo activistas políticos dos direitos civis. REUTERS

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