Artista Miguel Januário prepara criação de partido político

Responsável pelo projecto maismenos está no festival Iminente, em Lisboa, a recolher assinaturas para a criação de "uma plataforma onde as pessoas se possam sentir de alguma forma representadas".

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"Trazer a criatividade para o campo da política" é um dos objectivos de Miguel Januário LM MIGUEL MANSO

Através do ±maismenos±, iniciado em 2005 num contexto de investigação académica, Miguel Januário reflecte sobre o modelo de organização política, social e económica que gere a vida nas sociedades actuais. A ideia de criação de um partido "é um processo - desde o início, o pensar como poderia ser e criando até algumas intervenções, mais no campo da intervenção e não tanto no lado da política - com cerca de dois anos", contou à Lusa, no Panorâmico de Monsanto, dias antes da abertura de portas do festival Iminente, que junta música e arte urbana, e decorre até domingo naquele local, situado no Parque Florestal de Monsanto.

A intenção, explicou, "passa por criar um canal alternativo de representação, que jogue mais com a criatividade e com a intervenção". Além disso, a decisão de avançar com a ideia "também passa por trazer a criatividade para o campo da política, cruzar arte e política de uma forma mais real, e também criar uma plataforma onde as pessoas se possam sentir de alguma forma representadas".

Ao mesmo tempo, "durante todo o processo" até à criação efectiva do partido, Miguel Januário quer "relembrar às pessoas o quanto é importante estar-se envolvido com a política. Porque quando achamos que não estamos, ou dizemos que não estamos, que não queremos saber de política, estamos a ter um gesto político. E é um gesto político que interessa muito aos dinossauros da política, ou seja, à política já existente, do que podemos chamar do sistema", afirmou.

A recolha de assinaturas começou "oficialmente" há um ano, em Oeiras, durante a edição do ano passado do Iminente. "Tem-se feito com alguma calma, sem pressa, ao contrário de outras forças políticas novas. E estamos com cerca de três mil assinaturas, vamos mais ou menos a meio", contou, acrescentando esperar que, passado mais um ano, "'a coisa' esteja pronta". Em Portugal, são necessárias 7.500 assinaturas para se criar um partido político, além de outras formalidades, como a elaboração de estatutos. O processo de formalização de um partido inicia-se com a entrega das assinaturas no Tribunal Constitucional.

Nesta edição do festival Iminente, que decorre até domingo, além da recolha de assinaturas, Miguel Januário espalhou pelas paredes do Panorâmico de Monsanto "uma série de chavões políticos, para deixar ao campo da imaginação das pessoas o que é que eles representam na política actual: verdade, liberdade, justiça, futuro": "É uma forma muito simples de pôr as pessoas a reflectir um pouco sobre esses chavões, que foram feitos a partir de uma recolha do que é mais usado nos cartazes das eleições", explicou. Em maior destaque, estará a palavra "Real", cujas letras foram recortadas num material espelhado e coladas no exterior do edifício. "Real" traduz também "a ideia de o partido ser mais ou menos real, e da realidade à nossa volta, mas também é uma palavra em espelho que reflecte a Natureza neste edifício, que está aqui perdido no meio desta floresta", referiu.

Com o projeto ±maismenos±, Miguel Januário mostra a sua faceta mais 'interventiva': a título de exemplo, "matou o rei", em Guimarães, pintou frases de pernas para o ar em paredes do Porto, e "disse ámen", em Lisboa, em nome do Espírito Santo, da Sonae e do grupo Amorim. Em Maio, o artista português inaugurou a primeira exposição a solo no México, na Cidade do México, onde passou um mês em residência artística a convite da galeria Celaya Brothers. Nessa altura, realizou uma série de intervenções no espaço público, entre as quais uma marcha pré-eleitoral em Abril, aproveitando o período de pré-campanha que o país vivia na altura.

Já no Verão, Miguel Januário levou o projeto ±maismenos± a Roskilde, na Dinamarca, onde foi incluído no programa de artes e debate do festival de música, que se realiza anualmente desde 1971. Além de uma intervenção, foi responsável por uma oficina, aberta ao público, e fez uma palestra sobre o seu trabalho.

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