Na Rússia "há respeito pelos direitos humanos"

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Nuno Ferreira Santos

"A Igreja Ortodoxa russa tem no Estado um aliado", admite o metropolita Hilarion Alfeyev. "Preferimos trabalhar com o Estado em vez de simplesmente criticar o Estado", diz o arcebispo e líder ortodoxo em entrevista ao PÚBLICO.

Em tempo de eleições na Rússia, o Presidente Vladimir Putin beneficia da sua conhecida proximidade com a Igreja Ortodoxa liderada pelo patriarca Kirill
Com certeza que beneficia, porque quando a maioria das pessoas é cristã ortodoxa e o Presidente é cristão ortodoxo, ambos os lados beneficiam desta proximidade. As pessoas beneficiam de o Presidente ser um cristão ortodoxo, e o presidente Putin beneficia do apoio público.

Em que medida a Igreja Ortodoxa russa assume posições públicas a favor do Estado?
A Igreja nunca apoia um partido político em particular, ou um candidato em particular. Não somos autorizados pelo nosso regulamento interno a apelar abertamente ao apoio de um candidato em particular. E isto nunca é feito pelos responsáveis da Igreja. Mas a Igreja pode comentar as posições sociais de partidos políticos ou de políticos. Pode apoiar certas posições ou criticar outras. Há cooperação entre a Igreja e o Estado em muitas áreas. Mas também há certas áreas em que a voz da Igreja não é ouvida.

Como por exemplo?
Temos apelado nos últimos 20 anos à existência de educação religiosa nas escolas. Nos últimos 20 anos, colocamos a questão às nossas autoridades estatais, ao nosso ministro da Educação, e não recebemos uma resposta clara, a não ser que existe separação entre a Igreja e o Estado. Apenas conseguimos que durante o ano escolar as crianças tenham durante 45 minutos por semana uma lição sobre religião do ponto de vista cultural, por um professor que não é um padre. E não temos conseguido avanços no diálogo [com o Governo] nesta questão.

Existe separação entre a Igreja e o Estado. Porém, em certas questões como esta do ensino da religião nas escolas, a igreja precisa do Estado como aliado, para que estes e outros temas se tornem prioritários para o Governo do ponto de vista legislativo?
Sim, com certeza, mantemos um diálogo com o Estado em muitas questões e, por vezes, também trabalhamos com as autoridades do Estado no sentido de proceder a algumas alterações legislativas. Isto é possível. Mas não é garantido que sempre que queiramos fazer mudanças essas mudanças se verifiquem.

A Igreja precisa do Estado e o Estado precisa da Igreja.
Sim.

E funciona deste modo?
Funciona deste modo, mas muitas vezes perguntam-nos por que não criticamos o Estado. A minha resposta é que preferimos trabalhar com o Estado em vez de simplesmente criticar o Estado, preferimos encontrarmo-nos com as pessoas indicadas na administração do Estado, e apresentar a nossa posição. Em muitos casos a nossa posição é ouvida, mas não em todos. Por um lado, há formas de cooperar entre a Igreja e o Estado. E em muitas ocasiões resulta muito bem. Mas há questões em que não chegamos a consenso.

Questões como o respeito ou a violação dos direitos humanos na Rússia?
Este não é um exemplo de um tema que tentamos trabalhar conjuntamente com o Estado.

Para a Igreja que, como disse, se envolve na garantia do bem-estar da sociedade, a defesa dos direitos humanos é uma questão importante?
Sim, é importante.

Há respeito pelos direitos humanos?
Por parte de quem?

Do Estado.
Penso que há respeito pelos direitos humanos.

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