"Farto de pacóvios", Martins da Cruz anuncia saída do PSD

Embaixador e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros enviou carta ao partido nesta sexta-feira na qual diz estar "farto de aturar pacóvios". Não se revê na "prática política, na orientação nem no discurso exclusivo" da direcção de Rui Rio.

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Martins da Cruz REUTERS

O embaixador António Martins da Cruz, ex-chefe da diplomacia portuguesa no Governo de Durão Barroso, desvinculou-se do PSD nesta sexta-feira alegando não se rever na "orientação e na prática política" da actual direcção de Rui Rio. E diz mesmo que se fartou de "aturar pacóvios".

A informação avançada pelo Expresso foi confirmada ao PÚBLICO por António Martins da Cruz. O embaixador enviou uma carta ao partido e em apenas duas frases termina com a relação de militante que mantinha desde 2007. “Não me revendo na orientação e prática política da actual liderança, e da maioria das figuras à sua volta, renuncio por este meio e a partir de hoje à condição de militante”, escreve Martins da Cruz na missiva, onde acrescenta, de forma ríspida, que não se revê em "pacóvios suburbanos".

Independente até 2007

"Fartei-me de aturar pacóvios", reitera ao PÚBLICO. "Fui assessor diplomático de Cavaco Silva [a partir de Outubro de 1985] durante nove anos e meio e era independente; fui ministro dos Negócios Estrangeiros de Durão Barroso [de quem é amigo pessoal desde a década de 1980] e era independente", descreve o embaixador. "Tenho 71 anos, não preciso destes senhores para nada", acrescenta.

No caso da participação no Executivo de Durão Barroso, Martins da Cruz teve a pasta dos Negócios Estrangeiros entre Abril de 2002 e Outubro de 2003, tendo pedido a demissão na sequência da revelação da sua alegada cunha para que a filha tivesse condições excepcionais no acesso à universidade, e conseguisse entrar no curso de Medicina. O caso provocou também a queda do ministro da Ciência e do Ensino Superior, Pedro Lynce, que terá beneficiado a filha do seu colega de Governo com um regime especial para o qual não preenchia os requisitos exigidos. Lynce demitiu-se uns dias antes de Martins da Cruz, que só tomou a mesma decisão depois de pressionado por Durão Barroso.

"Cavaco Silva e Durão Barroso são as figuras em que me revejo no PSD. Não há comparação possível com estes senhores que lá estão agora", afirma António Martins da Cruz que só se filiou no PSD já em 2007 pela mão do seu "grande amigo" Luís Filipe Menezes. Depois dessa data, recorda, foi presidente da comissão de relações internacionais do partido durante meio ano e integrou o Conselho Estratégico do PSD no tempo de Pedro Passos Coelho, que "reuniu pouquíssimas vezes".

Muitas gotas de água

"Nunca tive uma militância activa. Como não me revejo na orientação nem na prática política destes senhores que lá estão, nem no seu discurso exclusivo que põe de parte pessoas, por honestidade decidi sair", diz ainda o embaixador ao PÚBLICO.

Questionado sobre qual foi o incidente que o levou a tomar a decisão, Martins da Cruz não especifica. "Houve muitas gotas de água" nos últimos meses, afirma, apressando-se a dizer que não tem "segundas intenções" com esta decisão - ou seja, não tencionará mudar-se para a Aliança de Pedro Santana Lopes, por exemplo - nem com o momento em que a tomou. "Foi nesta sexta-feira; assim fico tranquilo para o fim-de-semana", diz, desvalorizando.

"Fartei-me de aturar pacóvios. O que eles querem fazer [quanto ao futuro do partido] é lá com eles", remata.

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