A história do wallpaper mais icónico de sempre

Quem não se lembra da foto de fundo do Windows XP? Bliss é provavelmente a fotografia mais vista da história e foi captada por Charles O'Rear. "Não houve nada de especial naquela fotografia, apenas estar no sítio certo à hora certa", conta ao P3.

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Era uma espécie de quadro como os que temos lá em casa. Estava em casa, no trabalho, nos cibercafés e praticamente em todo o lado. Não se consegue pensar no Windows XP sem, de forma quase automática, nos vir à memória a célebre fotografia da colina verde enquadrada num céu azul repleto de nuvens.

A foto foi tirada por Charles O’Rear – Chuck para os amigos. Estávamos em Janeiro de 1996, na Califórnia, na zona Norte de São Francisco. Chuck viajava cerca de 80 quilómetros para passar o fim-de-semana com a sua namorada, Daphne, como fazia todas as semanas. Ficou rendido aos montes verdes que envolviam a estrada e parou para tirar algumas fotografias. “As montanhas estavam tão verdes devido às chuvadas de Dezembro que eu só pensei em fotografar a paisagem”, conta Chuck, hoje com 77 anos, que recebe o P3 no quarto de hotel onde está hospedado para uma conferência que antevê o Porto Photo Fest, festival de fotografia que decorre em Outubro.

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Charles O'Rear ao lado da foto que se tornou o wallpaper mais famoso do mundo DR

Colocou a foto no Westlight, um banco de imagens para o qual trabalhava. Pouco depois, o Westlight foi comprado pela Corbis – uma empresa do mesmo sector – que pertencia a Bill Gates, dono da Microsoft. Os engenheiros do Windows XP andavam à procura de uma fotografia para ser a imagem de fundo do novo sistema operativo e encontraram a sua. “Porque é que eles iam a outro lado quando o patrão tinha um banco de imagens?”, pergunta Chuck. Não foram, realmente, e ligaram ao fotógrafo para comprar os direitos da imagem. “Eu disse o meu preço e eles afirmaram logo que era impossível!”, conta-nos. A verdade é que chegaram a acordo: a foto foi comprada e baptizada de Bliss – que significa felicidade. “Eu não te posso dizer o valor, mas foi bastante dinheiro”, afiança o americano de sorriso aberto.

Não podia imaginar que a fotografia iria perdurar por tantos anos. “Acho que foi pelo fracasso do sistema operativo seguinte [o Windows Vista]”, defende. De facto, oito anos depois do lançamento, o XP continuava a ser o sistema mais utilizado e a imagem Bliss permanecia no fundo dos computadores de todos nós.

Mas, além disso, há um certo universalismo associado à paisagem, recorda a mulher, que se intromete na conversa. “Estivemos há pouco tempo na Toscana e ele tirou uma foto praticamente igual à Bliss”, revela Daphne, ao mesmo tempo que insta o marido para mostrar a foto em causa. As semelhanças são evidentes. “É uma paisagem com que toda a gente se identifica”, conclui Chuck, assegurando que a fotografia não teve qualquer tipo de edição digital.

Daphne continua a falar enquanto o marido descansa a voz. Recorda-nos que naquela sexta-feira no início de 1996 o marido tirou várias fotografias. “Existem imagens praticamente iguais à Bliss que estão na nossa posse”, revela. “Olha, acabou de me ocorrer: talvez venda essas à Apple!”, graceja Chuck, enquanto solta uma gargalhada.

É provavelmente a foto mais vista da história. “A Microsoft não me diz os números certos, mas garantidamente que será mais de um bilião de pessoas”, estima o norte-americano, baseando-se no número de computadores vendidos nesses anos.

Para além de Bliss

Não será frustrante para um homem ver a sua vida profissional resumida a uma imagem? Chuck diz que não. “Acho fantástico, porque acabou por demonstrar o poder de uma fotografia. Não houve nada de especial naquela fotografia, apenas estar no sítio certo à hora certa.”

Mas a vida profissional de Chuck está repleta de episódios. Trabalhou 25 anos para a National Geographic, onde fotografou centenas de lugares. Marcou-lhe especialmente a passagem pelo Sul da Rússia, devido à hospitalidade. “Passei por lugares muito bonitos, mas o que guardo comigo são as pessoas.”

Durante um ano, andou pelo mundo a fotografar zonas vinícolas – uma das suas paixões. Passou pelo Douro, onde se lembra “das pessoas com as cestas cheias de uvas às costas”. “Fui ainda o único fotógrafo que foi capa da National Geographic”, diz, mostrando no telemóvel a capa com a manchete The Bird Men, em que surge a bordo de um ultraleve.

No ano passado, uma empresa suíça contratou-o para andar pelos Estados Unidos a tirar fotografias que servissem como fundo para smartphones à boleia de uma campanha publicitária. Ainda assim, acha que não será possível reproduzir um wallpaper tão marcante como Bliss, até porque, "hoje em dia, é muito mais fácil mudar um fundo de ecrã". "Estamos sempre ao telemóvel e ao fim de uma semana acabamos por ficar aborrecidos e alterar.

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