Viva Pontevedra!

Quando se pensa nos benefícios da falta de circulação de veículos motorizados – a qualidade do ar, a qualidade do espaço, a qualidade de vida –, é difícil deixar de imaginá-la.

Miguel Anxo Fernández Lores é alcalde de Pontevedra desde 1999. No primeiro mês fechou o centro da cidade ao trânsito e pavimentou as ruas com granito.

No primeiro mês. Segundo Stephen Burgen, aquilo que se ouve no centro da cidade são os passarinhos, crianças a brincar (onde dantes era o meio da rua) e vozes humanas a conversar. Dantes só se ouvia o barulho do trânsito.

A epifania de Lores foi a seguinte: os automóveis são propriedade privada. Com que direito é que ocupam o espaço público? Foi assim que Lores se dedicou a devolver o espaço público ao público.

Entre 1996 e 2006 morreram lá 30 pessoas em acidentes rodoviários. Na década seguinte morreram três. Desde 2009 não morreu ninguém.

Quando se pensa nos benefícios da falta de circulação de veículos motorizados – a qualidade do ar, a qualidade do espaço, a qualidade de vida –, é difícil deixar de imaginá-la.

Há problemas em Pontevedra por causa do que se fez, mas são menores do que aqueles que resolveu. Os seres humanos são adaptivos. Arranjaremos sempre maneira de chegar aos sítios. Só há pouco tempo é que temos automóveis, autocarros, camiões e motas. Mas os escapes dos motores são uma tecnologia ultrapassada.

Os seres humanos são imaginosos. Faz bem à cabeça imaginar as nossas cidades sem trânsito (a não ser para casamentos e funerais, como em Pontevedra). Os nossos maiores defeitos são a preguiça de mudar e o horror às grandes mudanças.

Às vezes é preciso tomar decisões primeiro e pensar nas consequências depois. No primeiro mês.

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