O que se passou na TVI, Cristina, princesa da Malveira?

Haja Cristinas para que o nosso quotidiano tenha sobressaltos. Pobre país que só tem uma, dado que a outra, que ficou na TVI, não tem este estatuto maior na nobreza das audiências.

Claro. Claríssimo. Portugal não tem princesas das verdadeiras há mais de cem anos e toda a gente sabe bem a falta que elas fazem. O nosso reino conquistado à custa de varapaus contra Castela, Aragão e Muçulmanos ficou órfão dessas princesas reais.

Só que entretanto à custa de tanta basbaquice arranjou quem tivesse esse estatuto. E de repente novamente órfão. Insiste-se, de repente. Assim como não se espera que uma coisa vá acontecer e ela acontece.

A que vem isto a propósito? Dos factos maiores que marcam as nossas vidas para os dias de hoje e para sempre. É que temos alguém que se compara em termos genealógicos à duquesa que virou princesa casada com Carlos.

As árvores que distinguem os anónimos plebeus da grande nobreza já não vão buscar raízes à Casa de Bragança. Esqueçam.

Agora a grandeza ou a miséria dos lusitanos já nem sequer resulta da proximidade sanguínea de Dom Duarte Pio.

Um país de basbaques gosta de ficar a ver passar os comboios, sobretudo quando os pode agarrar, entre as dezanove e as vinte horas, pois é a esta hora da competição entre as três casas reais RTP 1, SIC e TVI.

No dia 18 deste mês a marquesa da Malveira, Cristina Ferreira, anunciou na SIC que a sua transferência da casa real TVI deixou-nos a todos em puro estado de estupefação. Disse-o ela a Rodrigo Guedes de Carvalho, sem pestanejar. Assim. Com toda a naturalidade própria de um estatuto de pura realeza.… "Foi como a morte da princesa Diana. As pessoas não estavam preparadas”… E se calhar não estavam. Quem é capaz de aguentar uma coisa destas? Ligar a TVI para a agarrar e zás nada de agarrar na TVI, só na SIC.

É extraordinário. Simplesmente sublime. Uma pessoa a querer agarrar alguém num canal e ter de a procurar noutro. Quem é capaz de aguentar este inesperado e estupefacto facto? Quem tem coração para semelhante empreitada? Quem? Se um português filiado na casa real TVI liga para lá e não apanha a marquesa da Malveira, e tem de a ir procurar na casa real SIC, como, sublinha-se, como se pode aguentar semelhante e inesperada reviravolta na vida?

É como a morte da princesa Diana. Nem o príncipe Carlos esperava. Nem a Rainha-mãe.

É bom que se tenha presente esta orfandade que foi bater à TVI e a todos os portugueses.

…"Foi como a morte da princesa Diana”… Vejam bem, foi como, sendo que este como vem trazer à frase todo o sal real que deixa todos desesperadamente órfãos dado o inesperado.

O que vale, diga-se em abono da verdade, é que morre uma princesa e logo outra nasce.

Nos tempos das Casas Reais mediáticas uma princesa é como um astro que morrendo num lado, logo nasce outro, quando o vil metal assegura um real vencimento.

A TVI não pôde agarrar a marquesa da Malveira, mas por cerca de 80 mil euros por mês a SIC apanhou-a e se, num primeiro momento foi inesperado, num segundo está conforme o valor das princesas em tempos de euros.

Afinal não foi assim uma coisa tão difícil de perceber: basta carregar no canal 3 em vez do 4 e lá está ela toda aparelhada, convencida, com o mundo dos basbaques de queixo caído.

As monarquias têm destas coisas. Haja princesas. Haja Cristinas para que o nosso quotidiano tenha sobressaltos. Pobre país que só tem uma, dado que a outra, que ficou na TVI, não tem este estatuto maior na nobreza das audiências.

Princesa só há uma que começou como plebeia a ganhar alguns euros e agora ganhou estatuto e guincha quando está no ar. Sim, a Cristina guincha e é no seu guinchar de cima dos seus sapatos de cerca de seis salários mínimos que ela deixou toda a gente estupefacta. Como alguém diria, noutra grande instituição, que se passou? Nada. Apenas a troca de canal para ganhar mais uns euros e entreter a massa plebeia embasbacada com tanto brilho e guincho. 

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