Senado quis saber como foi a ascensão meteórica de Benalla junto de Macron

Alexandre Benalla era apresentado como chefe de segurança do Presidente francês, coisa que não era. Depois de ter agredido manifestantes no 1.º de Maio, os senadores quiseram ouvi-lo, mas afinal nada lhe perguntaram sobre o incidente que levou à sua demissão.

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Alexandre Benalla à sua chegada ao Senado... Charles Platiau/Reuters
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... e a ser fotografado e filmado antes do interrogatório YOAN VALAT/EPA

O responsável pela segurança do Presidente francês, demitido depois de uma filmagem o ter mostrado a agredir manifestantes no 1º de Maio, respondeu nesta quarta-feira a um inquérito do Senado. Porém, os senadores não lhe fizeram qualquer pergunta sobre o incidente, quiseram sobretudo saber qual a natureza do seu trabalho como "sombra" de Macron.

Alexandre Benalla, cujo caso gerou um escândalo político, com acusações de abusos de poder no palácio presidencial, foi questionado ao longo de mais de duas horas. Explicou  que não era um agente da polícia nem um verdadeiro guarda-costas.

Estando sob juramento, o bem vestido assessor de logística no Eliseu respondeu a perguntas sobre a sua rápida ascensão dentro do círculo interno de Macron e como obteve a licença de porte de arma.

“Eu não era guarda-costas de Macron e nunca o fui… O meu trabalho era garantir a organização em geral, a segurança em geral”, disse o homem de 27 anos, que foi acusado de exercer poderes que nunca lhe deveriam ter sido concedidos.

Ao queixar-se do que considera ser um frenesim mediático à sua volta, Benalla respondeu calmamente às questões sobre como pode ter uma pistola Glock 43 e até que ponto o seu trabalho como assessor de logística se misturou com o papel de guarda-costas.

Benalla disse que muito do seu trabalho envolvia estabelecer o contacto entre o gabinete político de Macron e o corpo de segurança oficial encarregue de proteger o Presidente, conhecido por GSPR e constituído por gendarmes (membros da corporação militar) de alto nível e agentes seniores da polícia.

O inquérito do Senado é feito em paralelo com uma investigação judicial sobre o incidente do 1.º de Maio, em que Benalla tratou com violência manifestantes durante uma operação de controlo da multidão dirigida pela polícia. Apesar de Benalla ter pedido para estar presente como espectador apenas, acabou por se envolver directamente na operação e foi visto num vídeo a usar equipamento da polícia.

O que tornou o incidente num escândalo político de relevo – o mais sério dos 15 meses da presidência de Macron – foi o facto de Benalla só ter sido despedido depois de o vídeo se ter tornado público a 19 de Julho, mais de seis semanas depois do incidente.

Tal deu ao público a ideia de que o gabinete e os que rodeiam Macron, cuja taxa de aprovação desceu drasticamente para os 30%, depois de ter atingido valores de 60%, foram incapazes, negligenciaram ou ambos no que diz respeito a assuntos de policiamento e segurança.

Os ministros de Macron avisaram o Senado, controlado pela oposição, de que correm o risco de prejudicar a presidência e de terem passado os seus limites ao convocar Benalla, apesar da investigação judicial independente que está a decorrer.

Como resposta, a oposição denunciou o que considera ser um ataque sem precedentes ao parlamento por parte da presidência.

“Se o gabinete executivo pudesse deixar o parlamento, no caso o Senado, fazer o seu trabalho, tudo estaria bem na república”, disse Jean-Pierre Sueur, senador socialista.

Benalla recusara-se inicialmente a testemunhar, chamando aos senadores de “ilegítimos” e ao presidente da investigação de “pequeno marquês”. Pediu desculpa nesta quarta-feira, dizendo que se sentira sob a pressão do “frenesim mediático”.

Respondeu às perguntas dos senadores sem hesitação e declarou ter pedido uma licença de porte de arma por motivos de segurança pessoal e não para trabalhar como guarda-costas, mas admitiu que participara em actos públicos de Macron com a arma em sua posse.

Tradução de Ana Silva

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