Egas e Becas são um casal? A serem, não são os únicos em séries infanto-juvenis

Guionista de Rua Sésamo afirma que as duas personagens formam um par romântico, mas a produtora da série diz que são apenas "melhores amigos". Não seriam as primeiras personagens homossexuais no universo infanto-juvenil: de Sailor Moon a Adventure Time, há vários exemplos no pequeno ecrã.

Foto
Larry Downing/ Reuters

Rumor confirmado? Mark Saltzman, guionista e compositor da versão norte-americana da série educativa infanto-juvenil Rua Sésamo, garante que Egas e Becas formam mesmo "um casal apaixonado". A dinâmica do par terá sido inspirada na relação entre Saltzman e o seu companheiro. 

As declarações foram feitas à revista Queerty. Saltzman explica que quando integrou a produção da Rua Sésamo, em 1984, já tinha conhecido o “amor da sua vida”, o editor de imagem Arnold Glassman. “Acho que foi durante a Rua Sésamo que saí completamente do armário”, disse na entrevista publicada no domingo. 

Estava-se no pico da epidemia do VIH/sida e Saltzman perdia vários colegas de profissão homossexuais, acabando por se sentir motivado a abordar questões ligadas à comunidade na série infanto-juvenil. O guionista tentou várias vezes introduzir o tema na série, mas viu as suas propostas serem sucessivamente chumbadas pelo departamento pedagógico da produção: "Lembro-me de ter sido boicotado de uma forma que me fez pensar que era uma causa perdida." 

Por outro lado, disse, não encontrou resistência ao escrever guiões que assumiam implicitamente que Egas e Becas eram um casal. “Não havia outra forma de os contextualizar", disse, lembrando que havia na altura quem se referisse a si e ao seu companheiro como "Egas e Becas".

Saltzman afirma que houve duas outras personagens homossexuais que criou para Rua Sésamo (e que não foram incluídas na adaptação portuguesa da série): Sublime Miss M e Placido Flamingo. 

Em reacção a esta entrevista, a organização sem fins lucrativos Sesame Workshop, responsável pela série, nega que Egas e Becas sejam um casal gay.

"Como sempre dissemos, o Egas e o Becas são melhores amigos. Foram criados para ensinar às crianças em idade pré-escolar que as pessoas podem ser boas amigas de outras pessoas que são muito diferentes de si", lê-se num comunicado da organização. 

"Apesar de serem identificadas como personagens masculinas e possuírem vários traços e características humanas (como a maior parte das marionetas da Rua Sésamo), não deixam de ser marionetas e não têm uma orientação sexual", acrescenta-se.

Se o assunto não fica arrumado perante o desacordo entre o guionista e a produtora da série, a verdade é que seja como for Egas e Becas não são as primeiras personagens televisivas para crianças e adolescentes identificadas como homossexuais. De Sailor Moon a Adventure Time, interpretações semelhantes repetem-se:

Teletubbies

Noutra série infantil de sucesso no final dos anos 90, a personagem Tinky Winky foi repetidamente interpretada por críticos televisivos, educadores e responsáveis governamentais como sendo homossexual: um ser do género masculino, de cor roxa e com um triângulo invertido sobre a cabeça que tinha uma mala de senhora. Na Polónia, o Governo da altura instaurou uma investigação oficial para apurar se a personagem poderia influenciar negativamente as crianças. Nos Estados Unidos, líderes evangélicos como Jerry Falwell denunciaram Tinky Winky como um ícone gay. Os criadores da série, contudo, negam que a personagem tivesse qualquer orientação sexual.

Sailor Moon – Navegantes da Lua

Na série animada japonesa dos anos 90, que retratava um grupo de jovens mulheres com superpoderes, a relação entre as guerreiras Neptuno e Úrano foi, durante algum tempo, retratada de forma propositadamente ambígua (e na versão norte-americana foi pura e simplesmente apagada: as duas personagens foram apresentadas como primas).

Em capítulos posteriores, porém, a relação tornou-se explícita. Em Sailor Moon Crystal, continuação da saga original, datada de 2014 e estreada em Portugal no ano seguinte, as duas personagens femininas beijavam-se. Em 2016, esses afectos saltaram para as páginas dos jornais quando o canal Panda Biggs decidiu cortar uma cena de beijos em que se aflorava a questão da identidade de género da navegante de Úrano, uma rapariga com gostos, comportamento e aparência geralmente associados ao género masculino. 

A censura motivou queixas junto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que optou por não intervir, dando razão ao canal. O Panda Biggs alegou que as cenas eram desadequadas ao público-alvo e ao perfil do canal: "Tratou-se tão-somente de uma apreciação de natureza editorial que nada tem a ver com censura”.

Adventure Time

Estreada em 2007 nos Estados Unidos e em 2013 em Portugal, a série animada deixou espaço à imaginação e aos rumores sobre a relação entre Princess Bubblegum e Marceline The Vampire, com um passado romântico entre as personagens a ser várias vezes referido. Os rumores acabariam por ser confirmados pelo criador da série, Pendentlon Ward. No último episódio, as duas beijam-se. 

American Dad

Na série satírica dos criadores de American Dad, pensada para um público mais adulto mas ainda assim popular entre os mais jovens, o alienígena Roger apresenta-se como uma personagem se género definido que assume vários alter egos masculinos e femininos, mantendo relações com pessoas de todos os géneros.

The Simpsons

Série adulta igualmente popular entre o público jovem, ao longo de mais dos quase 30 anos de vida desta série já passaram pela fictícia cidade de Springfield várias personagens homossexuais. Há duas que se destacam: Waylon Smithers, o fiel seguidor do maquiavélico Mr. Burns, e Patty Bouvier, irmã de Marge Simpson. Smithers assume-se como gay bastante tarde na série (apenas em 2016), tendo sido apresentado durante vários anos como um homossexual no armário, apaixonado pelo seu patrão. Patty Bouvier, gémea de Selma, assume-se como lésbica no episódio There’s  Something  About  Marying, em 2004, em que é vista a beijar uma mulher.

Sugerir correcção
Comentar