Emprestavam dinheiro e intimidavam quem ficava a dever. Começa julgamento de 23 suspeitos de associação criminosa

Quem recebia empréstimos e não pagava era alvo de “intimidação física e psicológica”, acusa Ministério Público. Dez dos arguidos estão também acusados de crimes de branqueamento de capitais.

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Paulo Pimenta

O Tribunal da Guarda começou nesta terça-feira a julgar 23 arguidos que estão acusados dos crimes de associação criminosa, usura e extorsão praticados nas zonas da Guarda, Covilhã, Castelo Branco e Portalegre. Na primeira sessão do julgamento, da qual dois dos arguidos estiverem ausentes, por motivos de saúde, apenas três dos suspeitos aceitaram prestar declarações.

A mulher do arguido que é tido como suspeito do grupo foi a primeira a prestar declarações ao colectivo de juízes do Tribunal da Guarda. “Tanto eu como o meu marido, sempre falámos a verdade sobre os empréstimos. O meu marido realizava os empréstimos, mas dava a conhecer. Na zona, tudo faz esse tipo de empréstimos. Antigamente, não era crime”, disse a arguida.

A mulher referiu ainda que, como o marido estava em casa, sujeito a pulseira electrónica, foi, algumas vezes, “buscar esse dinheiro” dos empréstimos que “toda a gente praticava”, indicando que ele “tinha o negócio dele, como os outros”. A arguida negou que houvesse alguma associação criminosa no âmbito desta actividade e declarou que o marido “tinha vários empréstimos” e que quando os devedores não podiam pagar “paravam [os pagamentos] dos juros e começavam a abater no capital” e “não havia problema”.

“Nós fizemos estes empréstimos nunca pensando que isto era crime. Nunca isso nos passou pela cabeça. Nós não escondíamos nada de ninguém, nunca pensando que isso fosse crime”, admitiu.

Na primeira sessão do julgamento, dos 21 arguidos presentes, apenas três admitiram prestar declarações, referindo os restantes que o poderiam fazer mais tarde, incluindo o principal suspeito.

Nas declarações introdutórias, o advogado Francisco Pimentel, que representa um casal de arguidos, disse, referindo-se à mulher, estar convencido de “que não há nenhum facto que ela tenha praticado activamente”, enquanto o marido “nada teve a ver com a organização criminosa”.

Fortes medidas de segurança

Os 23 arguidos – 12 homens e 11 mulheres, com idades entre 23 e 73 anos – são acusdado pelo Ministério Público (MP) de terem feito empréstimos em dinheiro, e de, através da extorsão, terem exigido o pagamento de juros elevados a dezenas de vítimas. Dez dos arguidos estão também acusados de crimes de branqueamento de capitais, três de detenção de arma proibida e um de crime de incêndio.

“Tendo em vista a obtenção ilícita de elevadas vantagens patrimoniais, todos os arguidos, no âmbito de uma vontade colectiva, criaram todo um substrato material para a respectiva cobrança de juros mensais e acções de intimidação física e psicológica, para que tais pagamentos fossem efectuados sem falhas, e idealizaram e colocaram em prática todos os meios financeiros para que as quantias ilicitamente obtidas fossem ocultadas, desviando-as entre contas bancárias, escoando das mesmas avultados montantes”, relata o MP, especificando: “Seguindo tal propósito, por cada 500 euros de empréstimo, eram devidos 100 euros de juros por mês, não abatendo os juros à dívida inicial, tendo esta que ser paga na sua totalidade, por uma única vez.”

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