Suécia acaba com a "conta mais democrática do Twitter"

Desde 2011, o controlo de uma das contas oficiais do país era feito para um cidadão diferente a cada semana.

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A conta é seguida por mais de 145 mil pessoas Reuters/Dado Ruivic

A Suécia vai deixar de actualizar uma das contas oficiais do país no Twitter, conhecida, nas redes sociais, como “a conta mais democrática da Internet” por dar a voz a um cidadão diferente por semana desde 2011. O resultado é uma mistura ecléctica dos gostos, das ideias políticas e do dia-a-dia de diferentes cidadãos, a viver dentro ou fora do país, com idades entre os 15 anos e os 85 anos.

Alguns aproveitavam os sete dias de fama para criticar as políticas de Donald Trump ou perguntar a pessoas porque eram anti-semitistas, enquanto outros partilhavam receitas ou admitiam que preferiam estar a fazer sexo.

A iniciativa, chamada Curadores da Suécia, foi criado por autoridades responsáveis pelo turismo do país, para chamar atenção para a Suécia, enquanto, ao mesmo tempo, se realizava uma experiência sobre a liberdade de expressão na Internet. Assenta na ideia de que ninguém melhor do que os próprios suecos para projectar a imagem do país. O Twitter foi a plataforma escolhida pelo limite de caracteres e pela facilidade em difundir mensagens rápidas e directas em tempo real. Excluindo comentários racistas, homofóbicos, sexistas ou publicidade, durante sete anos, os 356 curadores puderam publicar sobre tudo aquilo que queriam ao longo de sete anos. 

"Estamos verdadeiramente gratos a todos os curadores que participaram no projecto", diz Anna Rudels, a responsável pela comunicação e digitalização do Swedish Institute, uma das entidades governamentais envolvidas na iniciativa, num comunicado sobre o fim do projecto. “Todos os projectos têm um fim”, justifica Rudels que diz que o fim da conta não vem de problemas com a gestão da rede social. Em sete anos, apenas foram eliminadas sete publicações, e apenas por questões de direitos de autor.“É altura de seguirmos em frente. Vamos desenvolver novos formatos para chegar a pessoas em mais países do que antes.”

A iniciativa chega ao fim com mais de 140 mil seguidores e dois Leões de Prata no Festival de Publicidade de Cannes. Porém, também trouxe várias controvérsias. Em 2016, por exemplo, descobriu-se que vários dos curadores eram alvos de mensagens sexistas depois da semana a controlar a conta. Em 2017, a conta voltou a receber atenção negativa quando um dos cidadãos bloqueou temporariamente 14 mil contas, por considerar que eram machistas, homofóbicas e xenófobas. A lista de contas bloqueadas incluía vários membros do parlamento do país, bem como o embaixador israelita na Suécia. 

Foi, no entanto, Max Karlsson, um jovem de 22 anos, que mais gerou atenção com as mensagens que publicou na conta. Quando o presidente dos EUA, Donald Trump, comentou em Setembro de 2017 que a Suécia estava a ter problemas por aceitar um grande número de refugiados, Karlsson enviou uma mensagem da conta do Twitter oficial do país a responder: “Hey Don, fala a Suécia. É bom saber que te preocupas, mas não acredites na polémica. Factos: estamos ok!”

Para o Swedish Institute, o projecto permitiu aumentar o conhecimento das pessoas sobre a Suécia em todo o mundo, permitindo aos cidadãos “partilhar opiniões interessantes, humor e conhecimento que têm”. Países como a Finlândia e a Ucrânia também criaram versões próprias deste projecto.

Esta semana, a 14 dias do encerramento da conta, as publicações são feitas por Rebecka Stråhlén, uma mulher de 31 anos com cabelo rosa que trabalha em osteoarqueologia (a ciência que estuda as culturas de diferentes sociedades humanas através dos ossos) e se descreve como uma pessoa “queer, geek, nerd” que é uma “mestre da morte” devido ao seu emprego.

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