De Coimbra a Cabo Verde: como chegou Pedro Lopes aos finalistas do “Jovem Político” do ano

Quis o destino e a vontade que a vida de Pedro Lopes tomasse direcções poéticas. Secretário de Estado do Governo cabo-verdiano, o jovem segue o caminho que o pai tentou no arquipélago africano. Agora, é o “único lusófono” na corrida ao prémio “Jovem Político” do ano da One Young World. Mas deixa os reconhecimentos de lado: o que importa é trazer a juventude à política.

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Pedro tem 32 anos e está nomeado para os prémios da One Young World DR

O percurso de Pedro Lopes não se faz só caminhando. Há um oceano que se estende feito tapete aos desígnios da vida do jovem político de 32 anos. Nessas ondas, há duas palavras a rimar, além-mar: Portugal e Cabo Verde. Mesmo com a homofonia habitual posta de lado, nos versos que escreve e que continua a apontar, o nome dos dois países é quase sempre concordante. O mergulho “mais importante e de maior responsabilidade” da sua vida já foi dado: é o secretário de Estado para a Inovação e Formação Profissional no Governo cabo-verdiano. “Fui convidado sem qualquer experiência ou afiliação partidária anterior”, explica, com orgulho, através de uma vídeochamada transcontinental.

Pedro Lopes está só no começo, mas o esforço empregue nesta jornada já valeu a nomeação para os primeiros prémios da One Young World na categoria de "Jovem Político do Ano". A organização tem como conselheiros figuras como Bill Clinton, Bob Geldof, Meghan Markle ou Justin Trudeau — algumas das “maiores inspirações a nível político” para Pedro Lopes. Os cinco vencedores serão anunciados “na cimeira que acontecerá em Haia, de 17 a 20 de Outubro”.

São 19 os candidatos de várias partes do mundo, com caminhos e realidades diferentes. “Para mim, foi surreal estar nomeado, ainda para mais como o único representante lusófono”, recorda, atirando de seguida alguns nomes que, como ele, trazem uma lufada de ar fresco ao mundo político: Bogolo Kenewendo, 31 anos, ministra do Investimento, Comércio e Indústria do Botswana, ou Elise Stefanik, 34, a mais jovem mulher a ser eleita para o Congresso dos EUA. A lista contempla jovens líderes dos 22 aos 35 anos. Se é bom ver o trabalho reconhecido? “Sim, é, mas não faço o trabalho para ser nomeado, e ainda nem fez um ano desde que estou nesta posição no governo”.

“O que é preciso é ter jovens interessados na política”

Para o Secretário de Estado cabo-verdiano, o que de melhor há nesta nomeação é “a força e o impulso que pode dar a outros jovens para seguirem a política”, cujo afastamento começa a preocupar as altas entidades governamentais a nível global. “Não podemos fazer só activismo social pelo Facebook – temos de perceber como estamos envolvidos das decisões sociais do país”, afirma, acrescentando um ponto que tem muito de seu: “O que é preciso é ter jovens interessados na política e não só envolvidos em organizações partidárias, mas ambos são importantes”. Trocou essa impressão com Barack Obama no primeiro programa de liderança em África da Fundação Obama, em Junho passado, para o qual foi seleccionado pelo antigo Presidente dos EUA. “Disse-me que a juventude, por mais alienada que possa estar, vai ser sempre afectada pela política”. Para além disso, foi um dos protagonistas de uma série de entrevistas da Forbes, a “30 Under 30”, que incidiu sobre jovens líderes que apostam na causa da energia e da sustentabilidade.

Ler a história de alguém que foi convidado para um alto cargo governamental sem experiência prévia pode causar suspeita, mas as linhas que o jovem político foi escrevendo ajudam a desfocar a imagem que engana. É que Pedro Lopes construiu, sozinho, um currículo cujos pontos ligam vários países – mas mantenhamos Portugal e Cabo Verde na memória, que já lá vamos. Licenciou-se em Relações Internacionais em Coimbra, mas decidiu reunir “conhecimentos profissionais e de vida” para trilhar as vicissitudes que já se pareciam adivinhar. Trabalhou por Portugal e Espanha, chegou a Itália à boleia de um “programa de mobilidade juvenil europeu”. Ainda se tornou mestre e pós-graduado no Reino Unido. Para além disso, e por cá, esteve sempre “envolvido em associações estudantis e no associativismo”. Isto até chegar a Cabo Verde, porque tinha de ser Cabo Verde – já lhe estava no sangue.

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Pedro Lopes DR

O que o pai pôs em pause, Pedro quer pôr em play

Há mais: “Fui para Cabo Verde para organizar o African Inovation Summit, que teve cerca de 500 convidados, algo em grande para Cabo Verde”, recorda. Os desafios discutidos fizeram com que “o bichinho pela inovação começasse aí, por causa dos problemas ligados à seca”. Depois, o TEDx na capital, Praia. É o primeiro organizador do evento naquele país, com um orçamento “à volta dos cem mil euros”, conseguindo erguer um evento à escala “do Porto ou de Lisboa”. Para Pedro Lopes, é destas acções que se ergue um “Cabo Verde 2.0”. 

O pai veio de lá para estudar em Coimbra, na década de 80. “Não havia universidades em Cabo Verde, mas hoje há muitas, felizmente!”, avisa. Depois, conheceu a mãe de Pedro Lopes. A Sul havia um país “muito jovem”, com poucos anos volvidos desde a independência de 1975. “O objectivo do meu pai era voltar para o país e ajudar a edificar a identidade cabo-verdiana pós-independência”, explica. Não voltou, mas contribuiu na mesma, indirectamente: Cabo Verde estava lá, na sua casa, mesmo sem existir “uma comunidade muito grande em Coimbra”. “Cresci com o meu pai a passar a cultura cabo-verdiana para mim, aprendi a falar crioulo e fui sempre de férias para Cabo Verde”, explica. Por isso, só fazia sentido voltar à terra que os “pais e avós cabo-verdianos ajudaram a construir, numa sociedade democrática e pacífica”. 

Hoje, Pedro Lopes acredita num país que se estenda para lá da água que circunda cada ilha. Quer que Cabo Verde “dê mais saltos”, que aposte na inclusão social e na capacidade do “capital humano cabo-verdiano”. “Há um potencial enorme, especialmente no que diz respeito à diáspora”, garante. “Para isso”, insiste, “é necessário trazer os jovens para a política”. O Secretário de Estado acredita que o percurso se faz a duas velocidades, citando Kofi Annan, falecido em Agosto último: “Nunca somos demasiado novos para liderar nem demasiado velhos para aprender”. Pedro Lopes já lidera, e quer continuar a aprender. “Por Cabo Verde, o país que o meu pai quis que eu soubesse que também era meu.”

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