Sexta-feira vamos ouvir Prince por trás da cortina

Piano & A Microphone 1983 é o título do álbum póstumo do músico desaparecido em 2016. Com edição marcada para 21 de Setembro é o registo de um ensaio em voz e piano. Inclui nove temas, entre inéditos absolutos, versões embrionárias de Purple Rain e 17 Days ou uma visita a A case of you, de Joni Mitchell.

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A sessão de que resulta o álbum teve lugar no estúdio caseiro de Prince em Janeiro de 1983 Prince Estate / Instagram

Quem assistiu aos concertos da última digressão de Prince, em 2016, viu o músico mostrar-se de uma forma íntima e despojada. Piano & Microphone Tour, assim foi intitulada a série de concertos em que, como descrito, o músico surgia a interpretar a sua obra com as teclas como único acompanhamento. Dois anos após a sua morte, a 21 de Abril de 2016, aos 57 anos, vamos ouvi-lo no mesmo formato, mas recolhido em estúdio e muito lá atrás no tempo.

Piano & a Microphone 1983 é o título da nova edição, marcada para esta sexta-feira, naquele que é mais um passo na revelação dos tesouros que guardam os extensíssimos arquivos do cantor. Composto por nove canções, o álbum inclui versões embrionárias de 17 Days e de Purple rain, uma versão de A case of  you, de Joni Mitchell, e inéditos absolutos como Why the butterflies, Wednesday e Cold coffee & cocaine.

A nova edição é o registo de um ensaio de Prince, gravado em cassete e que teve lugar em Janeiro de 1983 naquele que era então o estúdio caseiro, localizado em Chanhassen, no Minnesota. “A fita é como que Prince a trabalhar-se a si mesmo e a tentar conhecer as canções um pouco melhor”, explicou à BBC Lisa Coleman, teclista da banda de Prince do período, os The Revolution. “É muito fixe ouvi-lo a pensar alto”, entusiasma-se.

As canções já reveladas mostram-nos isso mesmo. Em Why the butterflies, em 17 Days, que seria mais tarde o lado B do single When doves cry, e no espiritual gospel Mary don’t you weep, que se ouve nos créditos finais de BlacKkKlansman – o mais recente filme de Spike Lee, actualmente em exibição nos cinemas portugueses –, ouvimos Prince a improvisar sobre os temas, a marcar o ritmo com o pé, a experimentar vozes e acordes ou a pedir aos técnicos que baixem o volume da voz ou as luzes no estúdio para o deixar na penumbra.

Este tipo de ensaios era habitual em Prince e surgiam sem aviso prévio. Eram momentos de pesquisa, momentos de lazer, momentos em que o músico procurava aquilo que as canções podiam vir a ser – o que eram inicialmente estava muitas vezes distante daquilo em que se tornariam no fim do processo: Lisa Coleman conta que Prince via Purple rain como uma canção country e imaginava Willie Nelson ou Dolly Parton e cantá-la.

Michael Howe, responsável pela investigação e catalogação do arquivo de Prince, explica que, neste momento, ainda só foi trabalhada uma pequena percentagem de todo o arquivo. “Tudo o que esperava encontrar lá, está lá, e muito, muito mais”, disse à BBC.

Reconhecendo que a música contida em Piano & Microphone 1983, registada dois meses após a edição de 1999, o quinto álbum de Prince, serviria apenas para uso pessoal do músico, nunca para edição comercial, Howe explica que, ainda assim, é desejo da equipa que todo o material dos arquivos editado e por editar esteja de acordo com aquela que era a visão e os critérios do músico de Sign ‘O’ the Times. Segundo o arquivista, as nove canções de Piano & Microphone 1983, são como “espreitar por trás da cortina, num período da evolução criativa de Prince em que ele era mais conhecido como guitarrista [do que como pianista]”.

A nova edição, que estará disponível em CD, vinil, em versão digital e numa edição "deluxe" LP+CD, inclui textos de contextualização assinados pelo engenheiro de som, Don Batts, e fotos inéditas de Prince. Sucede à compilação Anthology: 1995–2010, editada em Agosto.

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