Saber perder e saber ganhar: o que Serena e Naomi não fizeram

Se existiu sexismo no US Open? Existiu, mas a culpa não foi de Carlos Ramos. Não se admite que um homem possa trocar de camisola em court e uma mulher seja penalizada por fazer o mesmo.

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Reuters/USA Today Sports

Jogo ténis três vezes por semana, o que faz com que em todos os treinos tenha a experiência da derrota e da vitória. Quando um ponto é bem disputado, ainda que perdido, é comum dar-se uma pancadinha na raquete parabenizando o nosso adversário. Também é comum prescindir-se de árbitro, ainda que o treinador vista tantas vezes esse papel. Existe uma relação de confiança no oponente, que grita out quando uma bola nossa sai fora.

Mas esta história é a feijões. O ser humano tem a capacidade de se transformar num bicho quando o assunto envolve dinheiro, poder e estrelato. E a estrela máxima no contexto tenístico são os Grand Slams.

Acompanhei o US Open, gravando por entre as nuvens de estes dias, com algumas olheiras. Não resisti a assistir aos jogos do meu ídolo, Roger Federer, e de Maria Sharapova, que admiro pela resiliência.

E devo dizer que torci por Naomi Osaka. Na realidade já o faço desde o ano passado e calculo que, nos próximos dois anos, esta jovem venha a ser número um do circuito feminino — sobretudo se aprender a saber ganhar.

O ténis é um desporto de emoções, de força mental, de concentração, de resiliência. É, aliás, possível estar a um match point da derrota e, mesmo assim, ganhar jogos.

Não gostei de ver Naomi ser vaiada e muito menos gostei de a ver quase a pedir desculpa por ter ganho. Não gostei de a ver chorar, ainda que reconheça na sua humildade uma das características que mais me seduzem num ser humano.

Mas faltou uma outra característica que prezo — basicamente saber levantar a cara, saber vencer, ser feliz ali no agora pelo nosso sucesso.

Nunca gostei muito de Serena Williams como jogadora, não gosto da sua arrogância, não gosto de quem dá por garantida qualquer vitória e, sobretudo, não gosto de quem julga que o posto — ou, se preferirmos, o estatuto que se tem — é superior ao talento e ao trabalho dos outros.

Porque ninguém vai a lado nenhum sem trabalho e Serena continua, naturalmente, a possuir um talento incrível que se traduz na força da sua pancada. E é aí que reside o facto de não a apreciar como jogadora. Não tem um ténis bonito, não tem um ténis espectáculo. E agora que está vulnerável ainda menos, porque revela nas bolas curtas à rede a sua vulnerabilidade física.

Não existiu falta de profissionalismo em Carlos Ramos. Existiu, sim, uma jogadora que não soube perder. Uma jogadora que não soube perder para uma mais jovem. Existiu uma jogadora que, muito provavelmente, vai ter dificuldade em saber reconhecer ao espelho que se está a aproximar a hora de deixar o lugar livre para as estrelas do presente e do futuro.

Se existiu sexismo no US Open? Existiu, mas a culpa não foi de Carlos Ramos. Não se admite que um homem possa trocar de camisola em court e uma mulher seja penalizada por fazer o mesmo.

Se existiu racismo no US Open? A multidão de fãs de Serena e Vénus, bem como o tratamento especial que sempre tiveram por parte da organização, diz-nos claramente que não.

Os direitos humanos não devem nem podem servir de arma de arremesso para justificar aquilo que corre menos bem, procurando um bode expiatório.

No meio desta polémica toda, resta termos orgulho em Carlos Ramos, que é, à escala mundial, um dos melhores árbitros do mundo e, ao contrário do que afirmou Serena, vai ainda arbitrar muitas finais de Grand Slams, para bem da competição e dos próprios jogadores.

Lamento ver a carreira desta jogadora ficar assim manchada, sobretudo quando se aproximam a par e passo os dias do seu fim.

Serena pintou o court com violência e com falta de respeito, tendo como alvo Carlos Ramos e os seus fãs, que nos demonstraram o quão contagiosa é a violência.

Os fãs apuparam Naomi e demonstraram que na pele do ser humano ainda vivem todos os homens que aplaudiam as lutas de escravos gladiadores romanos.

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