É assim tão difícil de aceitar que há pessoas que pensam de outra maneira?

As teorias são sempre teorias mas esta em concreto está recheada de falsidades e inconsistências.

Caro João Camargo,

Li com atenção a teoria da conspiração, em formato de artigo, que me dedicou nas páginas deste jornal. As teorias são sempre teorias mas esta em concreto está, do princípio ao fim, recheada de falsidades e inconsistências facilmente desmontáveis por documentação oficial.

Dizem que as conspirações existem mesmo. Mas que são feitas no silêncio, na penumbra e longe dos olhares dos interessados. Não há registo de conspiradores que anunciam as suas conspirações com cinco ou seis anos de antecedência – como é o caso das frases que o João cita. E certamente não há registo de “conspirações”, “manobras” ou “manipulações” publicadas em Diário da República – como é o caso da minha nomeação. Tudo é tão público e tão transparente que metade do seu artigo são legitimas citações. O que me leva a concluir, se este processo fosse uma conspiração, seria a pior conspiração de todos os tempos. E, pelas suas palavras, nem sequer está em causa a competência dos conspiradores. Nada disso.

O problema do João não é a falta de experiência profissional do novo diretor-geral. Pelo contrário. É o novo diretor-geral ter demasiada experiência.

O problema do João não é a falta de conhecimento sobre os temas em análise. Pelo contrário. É o novo diretor-geral ter tido intervenções e artigos publicados sobre os temas em análise.

O problema do João não é a falta de visão estratégica do ministério ou a ausência de orientação do novo diretor-geral. Pelo contrário. É o novo diretor-geral ser muito orientado para a visão estratégica do ministério.

O problema do João é, sobretudo, que não concordem com ele na questão de fundo. Nem com as suas ideias, nem com a sua visão. E todos devíamos concordar com o João. Bem lidas as coisas, esse é o problema. Todos devíamos pensar como o João e não pensamos. Acho que lhe chamam democracia.

O João pode discordar do que está a ser feito, é o seu direito. Pode, e deve, discuti-lo. Pode não acreditar, como eu acredito, que as decisões estratégicas devem ser tomadas com base no conhecimento científico e que estas podem ser obtidas com o menor impacto ambiental possível e com o máximo ganho para o país. Pode tudo isso. Não deve é dar por adquirido que os outros não pensam pela sua própria cabeça. Que somos todos bonecos num teatro de sombras. É assim tão difícil aceitar que há pessoas que pensam de outra maneira sem que seja necessário explicar isso com benefícios ocultos?

Há interesses económicos relacionados com a prospeção de petróleo? Claro que sim! Imensos. Inúmeros. O que não falta por estes vastos mares é oportunidades de prospeção. E antes dos interesses desta ou daquela empresa privada existe o interesse do país do João e de 11 milhões dos seus concidadãos. E esse é o interesse que interessa discutir.

Acredito, e sempre acreditei, que a economia do mar pode permitir que os portugueses vivam bastante melhor e que devemos explorar todas as possibilidades e decidir por aquelas que assegurem melhor sustentabilidade. Acredito, e sempre acreditei, que seria uma irresponsabilidade não o fazer. E não bastam insinuações para me fazer mudar de ideias. É preciso argumentos. Melhores do que aqueles que apresentou. Mas isso até é irrelevante. Neste caso e neste processo, este diretor-geral não teve qualquer intervenção.

Um abraço, Ruben Eiras

P.S.: Hesitei bastante em escrever esta carta de resposta. E perceberá a dúvida: deve ou não um diretor-geral da Política do Mar intervir publicamente? Mas antes de diretor-geral sou cidadão. Com os mesmos direitos que qualquer outro cidadão. Mesmo o direito de intervir no espaço público. Acresce um outro ponto. Bastante mais simples: quando um diretor-geral não acredita nas políticas que tem para executar, não são as políticas que estão erradas, é o diretor-geral que está mal no cargo.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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