Famílias gastam mais dinheiro quando Estado investe menos em saúde

Países com baixos níveis de gastos públicos na saúde normalmente têm elevados níveis de gastos directos das famílias, o que pode levar a efeitos adversos nos resultados de saúde, refere a Organização Mundial de Saúde.

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A partir de 2019 todos os agrupamentos de centros de saúde vão ter dentista, uma das áreas que mais estava a descoberto no Serviço Nacional de Saúde Daniel Rocha

A relação é directa, aponta a Organização Mundial de Saúde (OMS) no Relatório Europeu de Saúde 2018, divulgado esta quarta-feira. Nos países em que se investe menos dinheiro público na Saúde, as famílias gastam mais do seu orçamento familiar para assegurar a prestação de cuidados. Portugal investe mais dinheiro público que a média da Região Europa, mas longe da Suécia e Holanda, países onde este investimento é o mais alto da região.

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A relação é directa, aponta a Organização Mundial de Saúde (OMS) no Relatório Europeu de Saúde 2018, divulgado esta quarta-feira. Nos países em que se investe menos dinheiro público na Saúde, as famílias gastam mais do seu orçamento familiar para assegurar a prestação de cuidados. Portugal investe mais dinheiro público que a média da Região Europa, mas longe da Suécia e Holanda, países onde este investimento é o mais alto da região.

“A evidência mostra uma forte relação entre os gastos públicos em saúde e os gastos directos das famílias [o chamado out-of-pocket]. Países com baixos níveis de gastos públicos na Saúde normalmente têm elevados níveis de gastos directos das famílias, o que, por sua vez, pode levar a dificuldades financeiras para as famílias e efeitos adversos nos resultados de saúde”, refere a OMS.

O relatório acrescenta que existem várias análises internacionais que sugerem que as famílias que gastam menos de 15% do seu orçamento em saúde estão menos sujeitas a experienciar dificuldades e empobrecimento.

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Contudo, aponta a OMS, em 2014, “40 países da Região Europa tinham proporções superiores a este limiar crítico, valores semelhantes aos resultados do Relatório de Saúde Europeu de 2015”.

Portugal está próximo da média da Região Europa da OMS. De acordo com o relatório, cujo dados mais recentes que apresenta são de 2014, os gastos das famílias com saúde representavam 26,8%, enquanto que a média estava em 26,6%. Já os gastos públicos eram de 6,2% e 5,7%, respectivamente.

Mas existem grandes diferenças entre os países, como a própria OMS salienta, havendo países em que os gastos das famílias são de 5,2% - caso da Holanda – e noutros em que chega aos 72% (Azerbeijão). Também existem grandes diferenças de investimento em saúde de acordo com o PIB. A Suécia apresenta gastos públicos de 10% enquanto que o Azerbeijão não ia além do 1,2%.

Mais esperança de vida

Uma das prioridades para 2020 é reduzir as desigualdades e garantir o acesso universal a cuidados de saúde em toda a Europa. Os gastos de saúde em percentagem do PIB e as despesas da família são por isso um ponto importante para perceber o que há ainda a fazer.

E não é apenas neste ponto que os países têm de continuar a trabalhar, aponta a OMS. Apesar da esperança média de vida à nascença ter aumentado nos últimos cinco anos e ir ao encontro dos objectivos estabelecidos para 2020 – a média da Região Europa passou de 76,7 anos em 2010 para 77,9 anos em 2015 –, ainda existem grandes diferenças entre os países (que pode chegar a 10 anos) e entre géneros. Os últimos dados sobre Portugal são de 2014, com uma esperança média de vida à nascença de 81,4 anos.

Um outro indicador referido pela OMS, que aqui usa dados de 2015 do Eurostat, é a estimativa de anos de vida saudáveis aos 65 anos. E se Portugal está bem na esperança média de vida à nascença, o mesmo não se pode dizer em relação aos anos saudáveis. As mulheres podiam esperar naquele ano 5,4 anos de vida saudável depois dos 65, enquanto que os homens podiam esperar sete. A média da União Europeia (28 países) era de 9,4 anos para ambos os sexos.

Entre os resultados positivos conseguidos nos últimos anos, salienta a OMS, estão a redução da mortalidade materna e infantil, da mortalidade por todas as causas em todas as idades e da mortalidade por doenças não transmissíveis (doenças cardiovasculares, cancro, diabetes e doenças respiratórias crónicas).

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Mas o caminho positivo pode ser ameaçado pelos maus estilos de vida. Entre 2010 e 2016 a percentagem de pessoas com excesso de peso e obesidade cresceu na região e o consumo de álcool por parte dos adultos continua a ser o mais alto do mundo, com variações que vão de um a 15 litros per capita anuais. A média da região em 2014 era de 8,6 litros per capita por ano. Portugal tinha um consumo de 9,9 litros.