PSD, PS e CDS satisfeitos com discurso de Juncker mas com reservas

Bloco e PCP muito críticos das palavras do presidente da Comissão. Moedas disse estar incomodado com a presença do partido de Orbán no PPE.

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Após o discurso, os eurodeputados aprovaram o accionamento do artigo 7 à Hungria EPA

Os eurodeputados do PSD, do CDS e do PS mostraram-se satisfeitos com o último discurso do estado da união de Jean-Claude Juncker, embora com algumas reservas. À esquerda, PCP e BE foram mais críticos sobre a intervenção do presidente da Comissão Europeia. 

O social-democrata Paulo Rangel considerou o discurso “francamente bom” tendo em conta que o presidente da Comissão Europeia fez um balanço mas também “quis falar de futuro” como na questão das migrações. O eurodeputado assinalou como positiva a referência à necessidade de construir parcerias com África mas acabou por apontar uma omissão na intervenção: a das negociações em torno do próximo pacote financeiro. Em causa está a possibilidade de Portugal e de outros países ficarem em risco de perderem financiamento enquanto “países ricos” ganham. “Não tem sentido nenhum. É uma lacuna séria”, afirmou aos jornalistas em Estrasburgo.

A intervenção de Juncker foi ouvida com agrado mas também com crítica pelo eurodeputado do PS Carlos Zorrinho. Por um lado, foi “um bom discurso sobre o posicionamento da União Europeia”, mas por outro “foi menos convincente quando falou sobre as respostas” que são necessárias para os problemas da Europa.  Carlos Zorrinho registou ainda como “boa ideia” a de referir a necessidade de criar uma “parceria” com África em vez de uma atitude assistencialista.

Para o eurodeputado do CDS-PP Nuno Melo, o discurso foi “previsível” ao tocar “nos principais pontos da agenda europeia” como as “migrações, o terrorismo e o 'Brexi't”. Questionado sobre a intenção de impor as decisões por maioria qualificada (e não por unanimidade) em algumas matérias de relações externas, Nuno Melo rejeita quaisquer alterações “que façam pender o peso para os mais fortes”. “Não devemos aceitar que nos retiram capacidade de decisão”, afirmou.

Mais críticos são os eurodeputados do PCP e do BE que ouviram Jean-Claude Juncker com muito mais reservas. “O que o Presidente nos trouxe foi uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma”, disse a bloquista Marisa Matias, apontando a “falta de propostas concretas” e de “medidas muito parciais”. O anúncio da colocação de dez mil guardas costeiras “é coisa nenhuma” já que não responde “a uma ameaça do momento”. Apesar das críticas, a eurodeputada deixa um elogio à forma como Juncker se referiu aos nacionalismos: “O Presidente coloca bem a distinção entre nacionalismos, que são parte do problema, e a soberania, que pode ser parte da solução.”

A posição mais dura veio do eurodeputado comunista João Ferreira. “O discurso redundou num exercício de propaganda e de mistificação”, afirmou, criticando a intenção de “reforçar o poder dos grandes Estados”. O eurodeputado considerou mesmo que a intervenção de Juncker absorveu ideias de extrema-direita ao dizer que a Europa não é uma fortaleza e anunciou a intenção de pôr no terreno mais dez mil guardas costeiros. “Isto não é outra coisa se não integrar ideias próprias de extrema-direita”, apontou.  

Desconforto com a Hungria

O comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação Carlos Moedas ficou satisfeito com a perspectiva de futuro que considerou estar inscrita no discurso. Lembrando que ainda "faltam 14 meses para o fim do mandato" (depois das eleições de Maio, os membros da Comissão ainda ficam até Novembro), Carlos Moedas salientou que o presidente "definiu metas" para os próximos meses e assinalou como "interessante falar de África quando falou de futuro". Carlos Moedas lembra que a China está a assumir uma posição no continente africano e que a Europa não pode ficar de braços cruzados. 

Questionado sobre se a Europa está agora menos unida do que em 2014, o comissário europeu remete a resposta para os resultados das próximas eleições. Mas deixa uma certeza: "Vivemos hoje um Estado terrível de divisão".  

No momento em que o Parlamento Europeu se preparava para votar a abertura de um procedimento contra a Hungria por violação dos valores fundamentais europeus – que acabou por ser aprovada esta manhã – Carlos Moedas expressou o seu desconforto sobre manutenção do partido do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán no Partido Popular Europeu (PPE). “Sinto-me muito inconfortável com o facto de Orbán no meu partido político”, disse o social-democrata, adiantando que se fosse eurodeputado o voto “era contra”.

O PPE (o maior grupo político no Parlamento Europeu) deu liberdade de voto aos seus deputados na questão da Hungria e Paulo Rangel anunciou que o seu voto era a favor da activação do artigo 7.º. “O PSD está a votar contra a Hungria desde 2011”, disse, desafiando os jornalistas a perguntar ao primeiro-ministro António Costa sobre situações idênticas que se estão a passar na Eslovénia, na Roménia ou em Malta. “A única [socialista] que tem a sua integridade física ameaçada por Malta é Ana Gomes, justiça lhe seja feita”, afirmou.

Do lado do CDS, Nuno Melo também votou a favor da abertura de um processo de activação do artigo 7º do Tratado de Lisboa contra a Hungria por violação de direitos e liberdades. A questão passa agora para as mãos do Conselho Europeu. 

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