Um parque de estacionamento deu lugar a uma pista de dança

"Shall We Dance", da artista portuguesa Marisa Ferreira, foi seleccionada pelo The Guardian como uma das dez melhores instalações artísticas ao ar livre do mundo.

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"Dançamos?" O projecto foi pensado por Marisa Ferreira para um antigo parque de estacionamento em Kongensgata, centro de Oslo. "Era uma zona morta da cidade conhecida pela prostituição", explicou ao P3 a artista portuguesa que chegou à Noruega em Fevereiro de 2008. Numa zona sombria, o alcatrão foi pintado aos ziguezagues, foram colocados dez bancos irregulares de cimento e um parquímetro foi transformado num altifalante amarelo que pode ser usado via Bluetooth para ouvirmos as nossas músicas mais dançáveis.

Trata-se de "uma ideia simples" — expressão utilizada pelo jornal The Guardian, que recentemente a seleccionou como uma das dez melhores instalações artísticas ao ar livre do mundo — com inspiração na residência da artista na Fundação do Michaelangelo Pistoletto, em Itália, em 2017. "O meu mentor foi o artista americano Rick Lowe, considerado o pai da Arte Socialmente Comprometida. Lowe ensinou-me como trabalhar site-specific sobre a história e singularidade do lugar e como um projecto pode criar um sentido de comunidade local", sublinha Marisa Ferreira, natural de Guimarães (1983) e com curso na Faculdade de Belas Artes do Porto (Mestrado em Arte e Design para o Espaço Público).

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Øystein Thorvaldsen

O município de Oslo, que procura banir os carros do centro até 2019, abriu um concurso para activar seis zonas esquecidas da cidade. Com uma "solução de baixo orçamento", Marisa apresentou "Shall We Dance?", um projecto com uma "possível alta recompensa no desenvolvimento do capital social entre os cidadãos e a habitabilidade urbana". "É uma queixa tradicional sobre a vida urbana: nunca há lugar para estacionar", escreve Marisa na apresentação do projecto. "Mas, no século XXI, o que as cidades realmente precisam é de menos espaço de estacionamento. De facto, para mitigar a mudança climática e tornar as cidades mais favoráveis a quem anda a pé, mais legisladores em todo o mundo procuram banir o trânsito motorizado", conclui Marisa, que para os desenhos no pavimento usou as anotações de Rudolf von Laban sobre a dança moderna e a geometria dos seus esquemas. "Basta ligar o telemóvel ao altifalante", explica. O espaço é hoje usado por desportistas, praticantes de ioga, skaters e simples transeuntes.

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Øystein Thorvaldsen

Por opção, Marisa já não dá aulas desde 2011, dedicando-se a tempo inteiro à sua carreira artística. "Foi com essa intenção que vim para Oslo", responde ao P3 em conversa telefónica. "Quando saí de Portugal nunca olhei muito para trás. Pensei criar as minhas próprias oportunidades." Com "altos e baixos" e "sem um salário no fim do mês", Marisa definiu muito cedo aquilo que não queria para a sua carreira ("isso ajuda muito") e num país que valoriza a arte — onde existe um KORO e, por exemplo, a alocação automática em arte de uma percentagem dos orçamentos de todos os projectos governamentais de construção. "Na Noruega consigo pensar a cidade e o espaço como a minha própria tela".

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Kulturbyrået Mesén
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