Moradores temem que prédio vá tirar as vistas do Miradouro da Senhora do Monte

Moradores da Graça têm a correr uma petição para tentar travar a construção de um prédio, ainda em processo de licenciamento, que acreditam que tirará as vistas de grande parte do miradouro.

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Tem uma das vistas mais bonitas sobre a cidade. Do Miradouro da Senhora do Monte vê-se o Convento da Graça e o Castelo, o rio e a Ponte 25 de Abril, avista-se o lado de lá do rio e as outras colinas de Lisboa. Mas um grupo de moradores da Graça teme agora que um bloco de apartamentos venha roubar dali uma das vistas mais desafogadas sobre Lisboa. Por isso, redigiram uma petição para tentar travar esta obra que está ainda em processo de licenciamento na câmara de Lisboa, não estando ainda aprovada, confirmou o PÚBLICO. 

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Tem uma das vistas mais bonitas sobre a cidade. Do Miradouro da Senhora do Monte vê-se o Convento da Graça e o Castelo, o rio e a Ponte 25 de Abril, avista-se o lado de lá do rio e as outras colinas de Lisboa. Mas um grupo de moradores da Graça teme agora que um bloco de apartamentos venha roubar dali uma das vistas mais desafogadas sobre Lisboa. Por isso, redigiram uma petição para tentar travar esta obra que está ainda em processo de licenciamento na câmara de Lisboa, não estando ainda aprovada, confirmou o PÚBLICO. 

Em Novembro de 2016, deu entrada nos serviços de Urbanismo da autarquia um Pedido de Informação Prévia (PIP) para a construção de um prédio para habitação no topo da Calçada do Monte, freguesia de São Vicente, com uma fachada contígua ao actual número 41, prologando-se até às escadinhas do miradouro e confrontando com a rua Damasceno Monteiro. Um ano depois, em Novembro passado, o PIP acabaria aprovado pelo vereador do Urbanismo da câmara, Manuel Salgado, já depois de os serviços terem pedido que fossem revistos alguns aspectos respeitantes à volumetria do prédio.

De acordo com informação que consta na proposta apresentada e a que o PÚBLICO teve acesso, o prédio terá três pisos acima da soleira, contando com uma cobertura em sótão, e um piso subterrâneo para estacionamento. A fachada terá seis metros de altura, enquanto que, no total, a edificação terá nove metros acima da soleira e três abaixo, dado o desnível que existe naqueles terrenos. Ao PÚBLICO, a autarquia confirmou que o processo “não está licenciado”. Instada a dar um parecer, no âmbito do PIP, a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), cuja apreciação é necessária, emitiu parecer de aprovação “condicionado”. 

Na mesma informação, lê-se que o projecto contém uma área de logradouro com cerca de 380 metros quadrados “de modo a salvaguardar o sistema de vistas”. Só que os peticionários acreditam que essa área não será suficiente para assegurar que se mantenha a vista panorâmica sobre a cidade. 

“O Miradouro da Senhora do Monte, local de recolhimento religioso e devoção a Nossa Senhora, com uma procissão anual em Julho, é também visitado por largos milhares de portugueses e estrangeiros ao longo do ano e tornou-se ponto privilegiado para ver o fogo-de-artifício do fim do ano e das festas de Lisboa e diariamente se vir admirar o pôr-do-sol”, lê-se na petição. Os signatários da petição alertam ainda para o facto de o projecto integrar a Zona Especial de Protecção da Capela de Nossa Senhora do Monte, classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1933, e que, acreditam, ficará sem vistas e tapada para quem a observa de outras colinas da cidade ou de outros miradouros como o de São Pedro de Alcântara. 

“Uma aberração”

Quem o diz é Carlos Pessoa, de 71 anos, morador e responsável pela conservação e restauração da capela que acredita que “cerca de 40%” das vistas do miradouro vão ficar tapadas por este bloco de apartamentos. “Se o miradouro, que hoje é um dos principais de Lisboa, ficar tapado, trata-se de uma aberração”, diz. Quem estiver no adro da igreja não vê o Castelo, nem o Tejo. Quem estiver no Castelo, por exemplo, apenas verá uma frincha do miradouro. 

Para Carlos Pessoa, que também já foi presidente da junta da Graça, a obra, a concretizar-se, tapará também o logradouro dos prédios da rua Damasceno Monteiro. “Eles ficarão com três ou quatro metros de claridade”, nota, alertando ainda para a “inclinação bastante elevada” daqueles terrenos, recordando que, em Fevereiro do ano passado, um deslizamento de terras na rua Damasceno Monteiro (que será contígua a este prédio) provocou estragos em quatro edifícios de habitação no condomínio Vila da Graça, repetindo-se o que já acontecera em 2010, quando três famílias ficaram desalojadas

“Nós queremos preservar Lisboa tal e qual como ela é. Se pudermos melhorá-la tanto melhor, mas não é assim a tapar a visibilidade de sítios icónicos como este”, aponta Carlos Pessoa.

O texto do abaixo-assinado encontra-se disponível para quem o quiser assinar na papelaria/tabacaria Havaneza (Largo da Graça), no Meu Super (Rua de São Gens), na drogaria/ perfumaria Anita (Rua da Senhora do Monte) e Jangada Urbana (Calçada do Monte). A intenção deste grupo de moradores é depois entregar o documento à presidente da Junta de Freguesia de São Vicente, à Assembleia Municipal de Lisboa e ao presidente da câmara, esperando conseguir travar o avanço do projecto.