Operadores, carregadores, transitários: todos contra a greve dos estivadores

Sindicato dos Estivadores arranca hoje novo período de greve até ao próximo dia 10 de Outubro. Empresas falam de ataque "despropositado" às exportações nacionais

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Daniel Rocha

O Sindicato Nacional dos Estivadores Trabalhadores do Tráfego, Conferentes Marítimos e Outros (SEAL) iniciou no dia 13 de Agosto um período de greve de quatro semanas ao trabalho suplementar. Esta segunda-feira, 10 de Setembro, inicia um novo período de greve, até ao próximo dia 8 de Outubro. A justificação é a mesma: o sindicato “exige respeito pela livre opção sindical” e pede que terminem “o assédio, as discriminações e as ameaças constantes aos trabalhadores filiados no SEAL, por parte dos diferentes grupos económicos que dominam os portos”.

A resposta a este anúncio de nova greve é feita em uníssono, apesar de assinada em comunicados diferentes e com argumentos diferentes. Em diferentes dias, e em diferentes documentos, a Associação dos Operadores do porto de Lisboa (AOPL), o Conselho Português de Carregadores (CPC) e a Associação dos Transitários de Portugal (APAT) criticam o sindicato dos Estivadores por estar a prejudicar o país.

O SEAL, liderado por António Mariano, tem influência sobretudo em Lisboa, porto onde em 2016 foi travada uma longa batalha com Governo e operadores, que culminou na assinatura de um novo contrato colectivo de trabalho. O Sindicato passou a ter expressão nacional, com António Mariano a assumir que pretendia levar a outros portos as mesmas condições laborais que conseguiu em Lisboa. Mas as greves que tem vindo sucessivamente a ser convocadas por este sindicato continuam a ter impacto sobretudo em Lisboa.

A AOPL foi a primeira a reagir em comunicado ao anúncio da nova greve, argumentando que esta revela claramente “que o real objectivo do SEAL é a criação a todo o custo de um clima de conflito social” para “afirmar o seu próprio protagonismo e o dos seus dirigentes, fazendo-o inclusivamente à custa dos direitos dos trabalhadores que deveria representar e proteger”. “

“O SEAL tem de criar permanentemente situações de conflito, fugindo de qualquer acordo que signifique a obtenção de um clima de paz social nos portos nacionais e hipotecando qualquer situação de diálogo”, acusa a AOPL.

O CPC acusa os estivadores de “atitude irresponsável” por estarem a persistir em contribuir “para danos incalculáveis na economia nacional”. “O crescimento [económico], que foi conseguido como esforço de milhares de trabalhadores de empresas exportadoras, gerou dezenas de milhares de empregos, poderá agora ser posto em causa pela atitude deste sindicato de representatividade apenas regional, que tenta uma vez mais fragilizar a confiança em Portugal como um fiável país exportador”, escreve em comunicado a associação que tem Pedro Galvão, da Secil, na presidência da direcção.

Já esta segunda-feira, dia em que arranca novo período de greve, a APAT divulga um comunicado em que se solidariza com a AOPL, por considerar que a estratégia do SEAL ter vindo a ser “invariavelmente desleal e absolutamente prejudicial para os portos nacionais, em particular para o Porto de Lisboa, quase fazendo parecer que a direcção sindical mantém uma agenda pessoal bem delineada em que a paz social e a defesa dos trabalhadores portuários não será seguramente a prioridade”.

A direcção da APAT afirma ainda, que é “infeliz e irresponsável esta estratégia negocial adoptada pela Direcção do SEAL e incompreensível esta incapacidade – ou inabilidade – do Sindicato manter os compromissos assumidos e, não obstante compreender que o SEAL necessita justificar a sua existência, não será certamente inventando conflitos laborais que irá garantir e acautelar os interesses dos trabalhadores portuários”.

Entretanto, o Sindicato dos Estivadores convocou uma manifestação nacional para ter lugar no dia 20 de Setembro, apelando a uma concentração, às 15h00, desde o cais do Sodré até à Assembleia da República. O lema é “Portos Nacionais: trabalho igual, direitos iguais”.

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