Obviamente Costa conta com o ovo no dito cujo da galinha

Politicamente, o melhor que podia acontecer agora ao PS era mesmo uma crise política à volta de discordâncias sobre o Orçamento do Estado.

Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP, é um caso excepcional no uso lúdico que faz da língua portuguesa. Segue-se, embora a grande distância, o Presidente da República (no tempo em que era comentador saía-lhe recorrentemente a expressão "não lembra ao careca").

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Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP, é um caso excepcional no uso lúdico que faz da língua portuguesa. Segue-se, embora a grande distância, o Presidente da República (no tempo em que era comentador saía-lhe recorrentemente a expressão "não lembra ao careca").

Ontem, na Festa do Avante!, depois das declarações entusiasmadas do secretário de Estado mais próximo da geringonça que este Governo tem – Pedro Nuno Santos – segundo as quais o Orçamento estaria praticamente aprovado na base de “não há três sem quatro”, Jerónimo tentou arrefecer a coisa. E fê-lo torneando uma expressão cujo significado é de alcance nacional: “É preciso não contar apressadamente com o ovo no dito cujo da galinha”.

Mas é este um problema central para o PCP – e também para o outro parceiro da geringonça, o Bloco de Esquerda. Costa e o seu Governo contam, de facto, com o ovo no dito cujo da galinha com uma vantagem supletiva: no caso de não existir ovo, ou seja, aprovação do Orçamento do Estado pela esquerda, Costa tem neste momento a possibilidade de alcançar uma maioria absoluta. É esta a conjuntura actual – e que circunstâncias imprevisíveis podem impedir que aconteça daqui a um ano. Com um Bloco ainda abananado com o caso Robles e um PSD inexistente, o quadro político favorece em grande escala o PS e o Governo. Estão fragilizadas as condições para uma negociação dura, por parte dos parceiros de esquerda, do Orçamento.

O PCP já percebeu e desistiu de associar a reposição do tempo de serviço dos professores à aprovação do Orçamento do Estado. Qualquer radicalização por parte dos partidos à esquerda do PS ajuda António Costa e pode prejudicar seriamente os parceiros do Governo. O BE, por exemplo, ainda precisa de tempo para que a memória sobre o caso Robles se desvaneça.

Politicamente, o melhor que podia acontecer agora ao PS era mesmo uma crise política à volta de discordâncias sobre o Orçamento do Estado. É por isso que Costa conta com o ovo no dito cujo da galinha e tem razões para isso. Se o PS não der com o ovo nesta galinha, pode sair-lhe a galinha dos ovos de ouro. Toda a geringonça sabe destas artes de capoeira e alquimia e que a tentação pode ser irresistível.