O vírus nacionalista instalado na Suécia

É bom que se comece a levar a sério esta constatação: a democracia liberal está a perder a guerra contra o extremismo. Aconteça o que acontecer, o nacionalismo xenófobo dos Democratas Suecos já venceu.

Se há dez anos alguém ousasse prever que um partido de extracto neonazi, fortemente conservador e nacionalista seria por estes dias a segunda maior força partidária da Suécia, muito poucos acreditariam. Essa distopia tornou-se real neste domingo e ninguém na Europa entrou em estado de sítio porque os 19,2% dos votos esperados pelos Democratas Suecos fazem parte do novo normal da política no continente. Nem a Suécia, liberal nos costumes, progressista na política, exemplar na conciliação entre a iniciativa privada e um Estado- providência eficaz escapa à vaga de fundo. Há um novo espectro na Europa que se instalou num dos países modelares da democracia do continente.

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Se há dez anos alguém ousasse prever que um partido de extracto neonazi, fortemente conservador e nacionalista seria por estes dias a segunda maior força partidária da Suécia, muito poucos acreditariam. Essa distopia tornou-se real neste domingo e ninguém na Europa entrou em estado de sítio porque os 19,2% dos votos esperados pelos Democratas Suecos fazem parte do novo normal da política no continente. Nem a Suécia, liberal nos costumes, progressista na política, exemplar na conciliação entre a iniciativa privada e um Estado- providência eficaz escapa à vaga de fundo. Há um novo espectro na Europa que se instalou num dos países modelares da democracia do continente.

É bom que se comece a levar a sério esta constatação: a democracia liberal está a perder a guerra contra o extremismo. Aconteça o que acontecer, o nacionalismo xenófobo dos Democratas Suecos já venceu. Antes das eleições, a sua força crescente tinha obrigado o Governo social-democrata a demolir a sua ideia de Europa sem muros e a fechar as portas aos imigrantes. A Suécia continua rica e altamente competitiva no mundo global, mas episódios de violência urbana e o vírus do medo aos outros mitigaram o papel da prosperidade e exacerbaram o valor identitário. A votação dos Democratas Suecos, que pode ter crescido mais de 50%, estilhaçou um sistema partidário organizado em dois blocos e cimentado por uma velha cultura de compromisso. Mudou radicalmente a percepção, ainda que por vezes romântica, que os suecos têm da política e abalou a sua adesão a um credo progressista que lhe marca a identidade nacional desde o final do século XIX.

Quando, em Maio próximo, se realizarem as eleições para o Parlamento Europeu será hora de constatar a deprimente realidade de uma Europa disposta a recuar no tempo e a abraçar as liturgias do extremismo sectário. Lá estarão os Democratas Suecos de braço dado com os Verdadeiros Finlandeses a olhar para Viktor Orbán, da Hungria, como a prova acabada de que o perfume do poder deixou de ser uma miragem para os nacionalismos. Já não há margem para ilusões: a União Europeia, que resistiu a décadas de crises económicas, desastres financeiros e tormentas políticas está a ser minada por dentro. As eleições europeias não serão ainda a hora do tudo ou nada, mas, com a História a acelerar como está a acelerar, poderão ser o sinal de que esse momento decisivo para o futuro fica ao virar da esquina.